Internação por crack
Com a divulgação de estudo em que o Brasil aparece em segundo lugar em número de usuários de crack e cocaína do mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, especialistas na área de saúde apontam para reflexão sobre as políticas antidrogas adotadas no país.
Especialista em dependência química e integrante da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (Abead), o psiquiatra Carlos Salgado ressalta a ênfase dada ao modelo ambulatorial por parte das políticas públicas, deixando, em segundo plano, o tratamento com internação.
A demanda por mais vagas para internação acentuou-se com o consumo do crack, já que a droga deixa os usuários em situações de extrema gravidade, avalia o psiquiatra.
Política ingênua
Salgado acredita que os cuidados ambulatoriais são úteis para parte dos usuários, porém a ênfase nesse tipo de tratamento é uma "política ingênua".
"Pensam que a dependência química é uma questão de escolha de vida e que não precisa de grandes investimentos. O que temos tido é uma visão que aplica uma ideologização da liberdade. O sujeito é livre pra usar drogas e quando precisar vai para o ambulatório," disse o médico.
Em dezembro do ano passado, o governo federal lançou programa de combate ao crack, que prevê, entre outras ações, criação de enfermarias especializadas nos hospitais da rede pública e leitos exclusivos para internação de curta duração, crises de abstinência e casos de intoxicações graves de usuários de drogas.
O psiquiatra destaca o início dos investimentos do governo na abertura de vagas para internação, porém argumenta que o orçamento voltado para a saúde é insuficiente para preencher todas as lacunas.
Outros países
Perguntado sobre tratamentos adotados em outros países que poderiam ser implantados no Brasil, Salgado assegura que o país tem condições de criar modelos adequados para todos os níveis de dependência química e que não precisa seguir nenhum outro adotado no exterior.
"Na rede privada, o Brasil oferece tratamentos, em todos os níveis de dependência, iguaizinhos ou até melhores dos que ocorrem nos países mais ricos do mundo. O Brasil sabe muito sobre dependência química, mas o Poder Público resolveu ouvir pessoas que pensam de forma ingênua," afirmou.
Tratamento precário
O levantamento do Instituto Nacional de Pesquisa de Políticas Públicas do Álcool e Outras Drogas (Inpad), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), aponta baixo índice, menos de 10%, de busca dos usuários de cocaína e crack por tratamento.
"O acesso é muito difícil no Brasil e a qualidade do tratamento é muito precária. Então, é isso que a gente tem que mudar, nós temos que criar um sistema que realmente funcione", disse o psiquiatra e organizador do estudo, Ronaldo Laranjeira, durante a divulgação dos dados.
Procurada pela Agência Brasil, a assessoria do Ministério da Saúde informou que não irá se pronunciar sobre a pesquisa, por se tratar de tema relacionado ao Ministério da Justiça, que também não comentou os resultados do levantamento.
Ver mais notícias sobre os temas: | |||
Vícios | Tratamentos | Drogas Lícitas | |
Ver todos os temas >> |
A informação disponível neste site é estritamente jornalística, não substituindo o parecer médico profissional. Sempre consulte o seu médico sobre qualquer assunto relativo à sua saúde e aos seus tratamentos e medicamentos.
Copyright 2006-2024 www.diariodasaude.com.br. Todos os direitos reservados para os respectivos detentores das marcas. Reprodução proibida.