15/04/2025

Como a internet está moldando e homogeneizando nossa visão de mundo

Redação do Diário da Saúde
Como a internet está moldando e homogeneizando nossa visão de mundo
Onde você está na escala de dependência da internet?
[Imagem: PublicDomainPictures/Pixabay]

Monopólio do discurso

Embora seja comum encontrar referências à quebra do modelo do jornalismo e dos veículos tradicionais de comunicação - até mesmo do "fim do jornalismo" - cientistas concluíram que a imprensa está na verdade expandindo sua área de influência.

Ainda mais importante, mas não necessariamente positivo, os jornalistas estão homogeneizando drasticamente as narrativas através das quais as pessoas dão sentido ao mundo, para além da esfera estritamente midiática - o fenômeno de "contágio" foi detectado em diversos territórios, do privado e íntimo ao político, ao cultural e ao artístico.

Esse quase monopólio do discurso é uma das principais conclusões de um estudo feito por pesquisadores da Universidade Carlos III de Madrid (Espanha), que analisaram a dimensão e os efeitos do discurso dominante na internet. A equipe adotou a perspectiva da teoria da comunicação e deu especial atenção às redes sociais.

"Os cenários construídos a partir das formas digitais de interação midiática caracterizam-se por gerar simulacros de transparência discursiva, pela negação das formas de narrativa como modeladoras da realidade e pela apologia de uma suposta factualidade para além da narrativa," detalha a professora Pilar Carrera.

Combinando elementos da psicanálise, da filosofia e da teoria crítica para explorar o impacto do ecossistema digital na subjetividade e na construção do poder, a equipe argumenta que a internet, na sua dimensão de meio de comunicação de massas, produz um ambiente em que as estruturas simbólicas geradas pela coexistência de discursos e sistemas de mediação concorrentes (condições necessárias para a democracia) ficam desgastadas, dando lugar a novas formas de controle camufladas de transparência e de empoderamento.

Fraude

A professora Pilar Carrera insiste em que a tecnologia não deve ser confundida com a lógica dos meios de comunicação e dos jornalistas, uma confusão muito comum e deturpadora - o que está em causa não é a tecnologia, nem se trata de "cânticos nostálgicos e retrógrados".

"A falácia da tabula rasa e os mitos da desintermediação têm-se revelado bastante úteis para desviar a atenção das estruturas de poder que gerem e orquestram o alegado 'ruído' da internet, um meio em que, na realidade, como em qualquer meio de comunicação de massas, tudo é planejado e controlado," disse a pesquisadora.

Pilar Carrera salienta ainda que o recuo para uma privacidade totalmente midiatizada e completamente desligada da pólis, como vem se configurando ao longo das últimas décadas, e que se consolidou definitivamente durante a pandemia da covid-19, representa um retrocesso aos regimes pré-democráticos.

"É um ato de enunciação fraudulenta identificar a arquitetura da internet com a arquitetura da sociedade no seu conjunto e, mais ainda, com a realidade," afirmou.

A pesquisa também apontou aspectos relacionados com o discurso midiático dominante sobre a inteligência artificial (IA). Em primeiro lugar, a noção de responsabilidade já muito desgastada, tendo sido inicialmente imputada aos "utilizadores", e agora a um qualquer algoritmo "descontrolado", e não aos proprietários das diferentes plataformas. Em segundo lugar, o assunto vem sendo crescentemente mistificado.

"O discurso dominante sobre a IA é, ao mesmo tempo, miraculoso, apocalítico, onipotente, ocultista..., uma verdadeira mistura testamentária e astrológica. Entramos na fase do tarô do médium. A narrativa digital é apenas um reflexo de si mesma, da sua própria lógica, camuflada sob uma aparente polifonia babélica de utilizadores globais," concluiu Pilar Carrera.

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