Erros no DNA
Uma equipe internacional, com participação de cientistas brasileiros, identificou uma substância capaz de impedir um "truque" que as células do câncer usam para evitar que nossas moléculas de DNA corrijam seus próprios erros, uma via que está comprovadamente envolvida na proliferação cânceres como mama, próstata, ovário, intestinos e gliomas (no cérebro).
Nossas células podem sofrer mutações por uma série de causas, o que pode gerar erros no seu genoma. Esse tipo de erro normalmente é detectado e corrigido por uma proteína quinase chamada VRK1, um tipo de enzima que modifica outras proteínas adicionando moléculas de fosfato, em um processo conhecido como fosforilação.
Quando há pouca ou nenhuma VRK1, as células acumulam erros em seus genomas, o que tipicamente as leva à morte por um processo natural, chamado apoptose. Nas células tumorais, contudo, essa quinase é produzida em quantidades maiores, viabilizando assim a proliferação das células com mutações.
No genoma humano existem cerca de 530 quinases descritas, das quais a ciência conhece bem apenas 80. Para o conhecimento funcional dessas enzimas é importante o desenvolvimento de inibidores que atuem seletivamente para cada uma delas. Esses inibidores podem servir como sondas para avançar no entendimento dessas enzimas, permitindo descobrir o que exatamente elas fazem e como funcionam.
Ciência aberta e aplicada
O que a equipe descobriu é uma substância capaz de inibir a proteína VRK1, tanto em células saudáveis quanto tumorais, consolidando a VRK1 como um alvo terapêutico para diversos tipos de câncer e abrindo o horizonte para o desenvolvimento de novos tratamentos.
"Neste trabalho, mostramos que, diante da inibição da VRK1 em células, não ocorre a reparação dos erros e elas acabam morrendo, pois o acúmulo de danos é muito grande," disse o pesquisador Rafael Couñago, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
A substância inibidora, derivada de diidropteridinona, foi inicialmente identificada pela equipe da Unicamp e agora está sendo aprimorada pelo laboratório Aché.
"O trabalho foi altamente colaborativo, com parcerias internacionais, universidades e a indústria farmacêutica brasileira," disse Couñago. Até agora, tudo se enquadrava como pesquisa básica, mas os resultados podem ser utilizados na ciência aplicada.
"Esse trabalho pode servir como base para que empresas, universidades e cientistas do mundo inteiro investiguem o papel da VRK1 no contexto tumoral, bem como utilizem essa molécula como ponto de partida para modificações que a tornem um fármaco," disse o professor Hatylas Azevedo, membro da equipe.
Ver mais notícias sobre os temas: | |||
Câncer | Biologia | Desenvolvimento de Medicamentos | |
Ver todos os temas >> |
A informação disponível neste site é estritamente jornalística, não substituindo o parecer médico profissional. Sempre consulte o seu médico sobre qualquer assunto relativo à sua saúde e aos seus tratamentos e medicamentos.
Copyright 2006-2024 www.diariodasaude.com.br. Todos os direitos reservados para os respectivos detentores das marcas. Reprodução proibida.