Pressão da torcida
O estresse interfere diretamente no desempenho dos jogadores de futebol. De acordo com uma pesquisa realizada no Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, em situações como cobrança de pênalti o estresse afeta consideravelmente a resposta motora.
O pesquisador Nelson Toshiyiki Miyamoto pediu para voluntários executarem uma tarefa que simulava em computador alguns aspectos das cobranças de pênalti do futebol.
Os testes foram separados em duas situações: voluntários sozinhos e sob pressão de torcida.
Nesta última condição, os voluntários não ultrapassaram 80% de aproveitamento, mesmo o goleiro dando pistas de que iria pular para um dos lados e o cobrador tendo tempo para escolher o lado para o qual chutar.
Ponto sem volta
O pesquisador comenta que, nessa situação, o jogador passa por muito estresse, atrapalhando não somente a sua concentração, como também a reposta do corpo para o momento decisivo. "Na situação com estresse, o jogador acaba pensando nas consequências de um erro. Inconscientemente, faz uma programação motora inadequada. Na hora de executar, acaba chutando de uma forma errada."
Outra reação que pode ocorrer nas cobranças de pênalti é a tentativa de mudar o lado do chute quando próximo do contato com a bola. Porém, isto só é possível antes de atingir o chamado ponto de não retorno, conforme explica Miyamoto:"O ponto de não retorno é o momento a partir do qual o cobrador do pênalti não consegue mais modificar a programação motora. O cérebro disparou a programação que vai executar e o jogador não consegue mais mudar a direção do chute".
O pesquisador destaca também que o resultado final dos testes coincidiu com a média de erros em cobrança de pênalti de campeonatos oficiais ao redor do mundo, que está entre 25 e 30%.
Simulação de pênaltis
Os testes em computador visaram simular principalmente os efeitos do estresse no controle motor. Para isso, 21 voluntários passaram por uma bateria de testes com o simulador. Nele, a pessoa via um gol, um ponto representando o goleiro, no centro um ponto que representava a bola e abaixo um terceiro ponto que se deslocava em direção a bola e representava o cobrador do pênalti.
Os participantes deveriam inclinar uma alavanca para direita ou para esquerda no exato momento da sobreposição do jogador e a bola. Nesse meio tempo, o goleiro controlado pelo computador poderia se mover para esquerda, para direita ou ainda ficar parado antes do chute acontecer. Assim, o objetivo era que o voluntário movimentasse a alavanca para o lado oposto ao goleiro.
A movimentação do goleiro acontecia em nove momentos aleatoriamente escolhido pelo computador. Estes tempos variavam de 51 a 459 milissegundos (ms).
Em uma etapa, os participantes passavam por estes testes em laboratório, sem influência externa. Em uma segunda etapa, eles faziam os mesmos testes, mas com a pressão de mais de 70 alunos dos cursos de Educação Física e Esportes da USP que simulavam uma torcida durante um jogo de futebol.
No laboratório, os voluntários chegavam a quase 100% de aproveitamento nos momentos mais próximos de 459 ms, contra no máximo 80% sobre a pressão da torcida.
Treinamento de pênaltis
O pesquisador acredita que o estresse poderia ter menos influência no jogador se ele treinasse mais cobranças de pênalti. Segundo ele, com treinamento adequado os jogadores conseguiriam reagir melhor ao estresse e conseguiriam resultados melhores.
"O que seria o ideal? Seria o jogador treinar para não pensar na hora de executar a cobrança, fazendo-a automaticamente. Ele não deveria mudar aquilo que está treinando ou do que ele programou para fazer. Porque, se ele tentar mudar em cima da hora, provavelmente as chance dele errar é maior", comenta.
Miyamoto acredita que o resultado final de mais treinamento de cobranças de pênalti seria um melhor aproveitamento. Porém, ele não observa essa preocupação no futebol: "Infelizmente, ainda há muitos técnicos e atletas que acham que pênalti é loteria. Então qual que é a teoria? Se é sorte não adianta treinar".
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