Parasita que brilha
Pesquisadores da Escola de Medicina de Londres (Inglaterra) criaram uma versão geneticamente modificada do parasita causador da doença de Chagas que é capaz de emitir luz vermelha.
Isto está permitindo monitorar a infecção mesmo em níveis muito baixos do parasita Trypanosoma cruzi.
Originalmente desenvolvida para ajudar a compreender a enfermidade em sua fase crônica, a técnica tem-se mostrado uma poderosa ferramenta para medir a eficácia dos novos fármacos pesquisados para o desenvolvimento de medicamentos contra a Doença de Chagas.
"Tem sido muito difícil estudar a doença em sua fase crônica, pois há uma carga muito pequena do parasita Trypanosoma cruzi no organismo e ela acaba ficando fora do radar dos métodos tradicionais. Já o limite de detecção desta nova técnica está entre 100 e 100 mil unidades do parasita, o que é muito sensível. Teoricamente, poderíamos identificar a infecção mesmo se ela estivesse restrita a uma única célula," explicou John Kelly, um dos idealizadores da nova técnica.
Kelly ressalta que um dos grandes enigmas ainda por ser desvendado é por que algumas pessoas sofrem sintomas severos na fase crônica da doença, enquanto outras são praticamente assintomáticas. De alguma forma, o parasita fica confinado em algumas poucas células e, em momentos de imunodeficiência, volta a se reproduzir.
Por isso é tão importante identificá-lo em baixas concentrações.
Vagalume vermelho
Para enxergar melhor o parasita, os pesquisadores criaram uma versão geneticamente modificada do Trypanosoma cruzi
Eles modificaram a enzima natural para que a reação gere uma luz vermelha, que é melhor absorvida pelos tecidos corporais e, portanto, aumenta a sensibilidade da técnica.
Quando a proteína luciferina é injetada nos animais de laboratório, ela é oxidada pela luciferase e ocorre a emissão de luz vermelha, que é captada com um equipamento dotado de uma pequena câmera, chamado IVIS Spectrum. As imagens geradas permitem não apenas medir a carga parasitária em cada momento da infecção como também saber em que células e órgãos os parasitas estão concentrados.
A técnica de bioluminescência poderá ser aplicada para entender também os mecanismos da infecção causada por outras espécies de Trypanosoma e por parasitas do gênero Leishmania.
Doença de Chagas
Geralmente transmitida pela picada do inseto conhecido como barbeiro (Triatoma infestans) ou pela ingestão de alimentos contaminados, a Doença de Chagas tem uma primeira fase aguda que pode ser assintomática ou apresentar sintomas como febre, mal-estar, inflamação e dor nos gânglios, vermelhidão, inchaço nos olhos (sinal de Romanã), aumento do fígado e do baço.
Anos depois podem surgir as complicações da fase crônica, sendo a principal o alargamento dos ventrículos do coração (condição que afeta cerca de 30% dos pacientes e costuma levar à insuficiência cardíaca) e a dilatação do esôfago ou o alargamento do cólon (que acomete até 10% dos infectados e pode levar à perda dos movimentos peristálticos e à dificuldade de funcionamento dos esfíncteres).
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