Nova forma de vida
A ciência sabe há muito tempo que o corpo humano é muito melhor descrito como um "condomínio", uma entidade onde múltiplos organismos convivem e se interrelacionam, do que como um ser único e individual.
E parece que temos um novo morador dentro de nós mesmos - mais especificamente, dentro do nosso sistema digestivo.
Pesquisadores da Universidade de Valência (Espanha) acabam de descobrir uma classe inteiramente nova de vida dentro do corpo humano, que eles batizaram de "obeliscos", devido ao seu formato.
O microbioma é um ecossistema microbiológico complexo que reside em todo o nosso corpo. Ele engloba uma diversidade surpreendente de microrganismos, que vão de vírus e bactérias a fungos e protozoários.
A descoberta representa uma camada adicional de complexidade desse nosso mundo microscópico interior. Na verdade, os obeliscos, pequenas entidades biológicas nunca vistas antes, desafiam nossa compreensão dos limites da vida - até hoje há controvérsia se mesmo os vírus poderiam ser classificados como seres vivos.
Os obeliscos são um novo agente infeccioso cujo genoma é mais simples que o dos vírus e cuja função e efeitos sobre a nossa saúde agora precisarão ser pesquisados. Eles foram identificados através de estudos de bioinformática de sequências genéticas obtidas de fezes humanas.
O que são obeliscos
Os obeliscos têm um pequeno genoma circular de RNA, com apenas 1.000 nucleotídeos, muito menos do que os genomas de RNA que alguns vírus usam para se reproduzir.
"Esses círculos de RNA são altamente autocomplementares, permitindo que adotem uma estrutura estável em forma de haste que lembra os monumentos egípcios que lhes dão o nome. Eles não têm a capa proteica que caracteriza os vírus, mas, como os vírus, podem codificar proteínas," explicou o professor Marcos de la Peña.
Os obeliscos lembram viroides, uma família de subvírus que infectam plantas, com os quais compartilham um genoma de RNA circular e a presença usual de ribozimas autocortantes. "No entanto, os viroides vegetais são ainda menores, com 300-400 nucleotídeos, e não codificam proteínas. Os obeliscos, portanto, ficam em algum lugar entre vírus e viroides, o que representa um desafio para sua origem e classificação," disse o pesquisador.
A função e os efeitos dos obeliscos e das proteínas que eles codificam ainda são um mistério. O elevado acúmulo de genomas de RNA no interior bacteriano poderia indicar, opinam os cientistas, um possível papel na regulação da atividade celular, o que teria implicações significativas para a saúde, uma vez que os microbiomas habitados por essas bactérias influenciam inúmeros aspectos fisiológicos, da digestão ao sistema imunológico.
Além disso, a descoberta dos obeliscos levanta questões fundamentais sobre a origem e a evolução dos vírus e da diversidade microbiológica. Segundo De la Peña, "esta descoberta mostra que o mundo microbiano é muito mais complexo do que imaginávamos. Abrimos a porta para um campo de exploração totalmente novo que pode revolucionar nossa compreensão da virologia, biologia e até mesmo da própria origem da vida na Terra".
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