Interação para pesquisa e desenvolvimento
A dificuldade das grandes farmacêuticas em descobrir drogas inovadoras está estimulando a procura por novos mecanismos de interação no setor de pesquisa e desenvolvimento.
Mas ainda há grande incerteza sobre os resultados futuros desses modelos.
A revista norte-americana Technology Review, editada pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), publicou a reportagem "Pharma Seeks a Drug Discovery Fix" (Indústria farmacêutica procura solução para descoberta de drogas, em tradução livre).
O artigo relata as discussões ocorridas na mais recente edição da Convenção Internacional da Organização da Indústria de Biotecnologia (BIO: Biotechnology Industry Organization), em Boston, entre 18 e 21 de junho.
Crise de inovação
O texto de autoria de Susan Young destaca que a lentidão para a descoberta de potenciais medicamentos e a dificuldade de empreendedores da área de biotecnologia em obter financiamento para pesquisas estão conduzindo à definição de novas alianças e parcerias entre investidores de capital de risco, acadêmicos e a grande indústria, mas não se sabe ainda se esses modelos resolverão os problemas.
Segundo a reportagem, a escassez de recursos para as empresas de biotecnologia ocorre em parte por causa da cautela dos investidores em aportar dinheiro em empresas iniciantes com dificuldades para abrir seu capital no mercado de ações.
Apesar de as grandes farmacêuticas estarem "desesperadas por ideias inovadoras", e de dependerem fortemente das pequenas firmas de biotecnologia para encontrar moléculas novas, esses grupos empresariais não querem aportar verbas em projetos iniciantes e de alto risco.
Essas novas parcerias, afirma a jornalista, que incluem colaborações diretas entre farmacêuticas e acadêmicos, são uma resposta para essa atual "crise", como definiram alguns debatedores do evento da BIO.
Divisão dos lucros
"A seca de financiamentos não deve terminar em curto prazo. O número de empresas de biotecnologia recebendo capital de risco pela primeira vez alcançou o nível mais baixo desde os anos 1990, segundo a Associação Nacional de Venture Capital. Uma pesquisa feita pelo grupo também descobriu que os investidores de risco dos Estados Unidos continuarão a reduzir os investimentos em start-ups de biotecnologia e equipamentos médicos", aponta a reportagem.
Em uma sessão do congresso em Boston, Anthony Coyle, chefe do programa Centers for Therapeutic Innovation (CTI, ou centros para inovação terapêutica, em tradução livre), da farmacêutica Pfizer, ponderou que as novas tecnologias produziram uma revolução nas ciências da vida na última década, apesar de as indústrias ainda estarem lutando para "apreender isso e traduzir em novas terapias".
Os CTIs já contam com colaborações com quatro centros de pesquisa acadêmica nos EUA em Nova Iorque, Massachusetts e Califórnia; sua função é a de buscar boas ideias, ainda em fase inicial, e transformá-las em potenciais candidatos para novos medicamentos.
Diferentemente das colaborações anteriores da empresa, afirmou Coyle, as parcerias acordadas pelo CTI - há quase dois anos - preveem a repartição igualitária da propriedade intelectual e a posse compartilhada dos direitos sobre os candidatos a novas drogas.
Modelos de inovação
A Technology Review destaca que há outros modelos de parceria sendo discutido no mercado atualmente, como o da Janssen Research and Development, subsidiária da Johnson & Johnson, que se associou recentemente ao grupo de capital de risco Polaris, da região de Boston, à procura de empresas de biotecnologia em estágio inicial.
Michael Elliott, da Janssen, se mostrou preocupado no evento com a disponibilidade de produtos e empresas que permitirão o futuro crescimento de seu grupo.
"Outras companhias farmacêuticas, como Merck e Sanofi, também fecharam parcerias como investidores de capital de risco, procurando melhor acesso à pesquisa de fase inicial", descreve a revista do MIT, lembrando que ainda poderá demorar anos até que os resultados dos experimentos da parceria sejam revelados.
Ou seja, os novos modelos de P&D colaborativos ainda exigirão muito tempo para serem testados por esse mercado em crise.
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