Comer ou não comer? Você só usa três neurônios para responder

Circuito da fome

Juntamente com respirar, comer parece estar entre os aspectos mais essenciais para a sobrevivência. Talvez para facilitar isso, a natureza providenciou para que o circuito neural por trás do movimento da mandíbula, que nos permite mastigar e engolir, é surpreendentemente simples.

Mas não sabíamos disso até agora. Christin Kosse e colegas da Universidade Rockefeller (EUA) acabam de descrever esse mecanismo, depois de descobrir que um circuito de apenas três neurônios conecta um hormônio sinalizador da fome à mandíbula, para estimular os movimentos da mastigação.

É muito pouco, em comparação com falar, cantar, tossir, rir, gritar ou bocejar - usamos nossas mandíbulas para muitos propósitos, com cada ação requerendo uma coordenação complexa de músculos, cuja atividade é gerenciada por neurônios no cérebro.

Comer ou não comer

Ao ir mais a fundo no mecanismo, a equipe confirmou que um aglomerado de neurônios em uma área específica do hipotálamo, contendo os chamados neurônios BDNF, serve de intermediário entre o hormônio e o grupo de três neurônios - e já sabíamos que, quando essa área do hipotálamo é danificada, isso causa obesidade.

De fato, inibir esses chamados neurônios BDNF não só levou os animais a consumir mais comida, mas também fez com que suas mandíbulas fizessem movimentos de mastigação mesmo na ausência de comida ou de qualquer outra entrada sensorial que indicasse que era hora de comer. E estimulá-los teve o efeito oposto, reduzindo a ingestão de alimentos e interrompendo os movimentos de mastigação, resultando em um freio eficaz contra a impulsão para comer.

E a arquitetura simples desse circuito recém-descoberto sugere que o impulso de comer pode ser mais semelhante a um reflexo do que se pensava, o que dá uma nova pista sobre como o início da alimentação é controlado.

"É surpreendente que esses neurônios sejam tão ligados ao controle motor," disse Christin. "Não esperávamos que limitar o movimento físico da mandíbula pudesse agir como um tipo de supressor de apetite."

Conexão entre sensação e comportamento

As descobertas sugerem que a conexão entre sensação e comportamento é mais profunda do que os cientistas acreditavam.

O controle do circuito neural conseguiu desativar ou ativar o impulso de comer em qualquer situação: Não comemos apenas quando estamos com fome, também comemos porque outros estão comendo em um ambiente social, porque estamos ansiosos, porque um doce é especialmente saboroso etc.

"A arquitetura do circuito de alimentação não é muito diferente da arquitetura de um reflexo. Isso é surpreendente porque comer é um comportamento complexo - um no qual muitos fatores influenciam se você iniciará o comportamento, mas nenhum deles o garante. Por outro lado, um reflexo é simples: Um estímulo definido e uma resposta invariável. Em certo sentido, o que este artigo mostra é que a linha entre comportamento e reflexo é provavelmente mais tênue do que pensávamos. Nossa hipótese é que os neurônios neste circuito são o alvo de outros neurônios no cérebro que transmitem outros sinais que regulam o apetite," disse o professor Jeffrey Friedman.