17/03/2025

Brasil tem mais de 400 espécies de cogumelos comestíveis silvestres

Com informações da Agência Fapesp
Brasil tem mais de 400 espécies de cogumelos comestíveis silvestres
Cogumelos da espécie Auricularia cornea.
[Imagem: Mariana Drewinski]

Quais cogumelos são comestíveis?

O interesse por cogumelos comestíveis vem aumentando no mundo todo, como fonte de proteína não animal, pela busca de novos sabores, cores e texturas para a alimentação humana e até mesmo como um recurso florestal não madeireiro para fabricação de diversos produtos.

Como parte desse esforço, uma equipe de 20 pesquisadores brasileiros realizou um levantamento de todas as espécies de cogumelos comestíveis silvestres conhecidas no Brasil. Até o momento, foram identificadas 86 espécies com registro confiável, mas o número total pode chegar a mais de 400 espécies.

Depois de um exaustivo levantamento inicial, o que incluiu o rastreamento de nomes de espécies atuais e antigos, o estudo envolveu a coleta de novas amostras dos cogumelos na Mata Atlântica, no Pantanal e no Cerrado, abrangendo oito Estados, para ampliar o conhecimento sobre as espécies que ocorrem no país.

Essas amostras passaram então por análise molecular e sequenciamento genético, o que permitiu a comparação com bancos de dados internacionais e a certificação da identidade de espécies já reconhecidas como comestíveis.

Foram identificadas 12 categorias diferentes das espécies silvestres já amplamente reconhecidas como comestíveis e que certamente ocorrem no país, até aquelas que ainda precisam de mais estudos para confirmação da sua identidade e da ocorrência no Brasil. Mas já se sabe que pelo menos 409 têm potencial para consumo humano seguro, sendo que 86 cogumelos já são claramente identificados como comestíveis e possuem registro confiável de ocorrência no país.

"Nós imaginávamos que encontraríamos algo em torno de 200 espécies no país, mas o número que obtivemos foi surpreendente," disse o professor Nelson Menolli Jr., coordenador do trabalho. "Ainda será necessário estudar mais, pois muitas dessas espécies, apesar de já terem sido citadas para o Brasil, não têm registro confiável de sua identidade e ocorrência no país. Essa pesquisa nos ajuda a guiar os próximos passos e os trabalhos necessários para os estudos de diversidade e cultivo de espécies comestíveis silvestres."

Brasil tem mais de 400 espécies de cogumelos comestíveis silvestres
Parte do conhecimento sobre os cogumelos comestíveis brasileiros vem dos indígenas.
[Imagem: Mariana P. Drewinski et al. - 10.1186/s43008-024-00171-8]

Conhecimentos tradicionais e indígenas

Embora no Brasil não seja comum colher cogumelos na natureza para consumo, o interesse por cogumelos comestíveis silvestres tem aumentado muito nos últimos anos.

"A questão é que o aprendizado sobre quais espécies são comestíveis e quais são tóxicas é gradativo. Assim como ninguém sai comendo qualquer fruta que encontra no mato, o mesmo cuidado deve ser tomado com os cogumelos: É preciso aprender com especialistas e se certificar daquilo que vamos consumir. Não é necessário instaurar medo sobre os cogumelos silvestres, mas é fundamental ter responsabilidade," frisou Nelson.

Para isso, os pesquisadores buscam classificar a comestibilidade dos cogumelos, ou seja, compilar informações que auxiliam na identificação das espécies seguras para consumo e daquelas que ainda exigem mais estudos para garantir essa segurança alimentar. Essa classificação indica as espécies que possuem evidência de consumo sem efeitos adversos, as que necessitam de preparo prévio ou cuidados específicos de manipulação para serem consumidas, as que não têm confirmação evidente de consumo e aquelas reconhecidamente tóxicas.

"Atualmente, não há um teste laboratorial que determine se uma espécie de cogumelo é comestível ou não. Podemos, sim, buscar compostos que já sabemos que são tóxicos, mas isso não significa que a espécie não possua outros compostos potencialmente prejudiciais para humanos e que ainda sejam desconhecidos pela ciência. Buscamos essas informações sobre a comestibilidade e o consumo em estudos e registros de usos por comunidades tradicionais e indígenas," explicou a pesquisadora Mariana Drewinski.

Um dos exemplos citados pelos pesquisadores é o livro Ana amopö: Cogumelos, que faz parte da Enciclopédia dos Alimentos Yanomami (Sanöma). Lançada em 2016, a obra é resultado do trabalho de professores-pesquisadores Yanomami e de cientistas de diferentes instituições brasileiras e estrangeiras. A obra traz um compilado dos cogumelos utilizados pelos indígenas em sua alimentação.

"O livro apresenta 15 espécies consumidas pelos Yanomami, indicando onde são encontradas - seja na floresta ou no sistema agrícola de plantação da mandioca - e como são preparadas para o consumo," explicou Nelson.

Brasil tem mais de 400 espécies de cogumelos comestíveis silvestres
Um dos objetivos dos pesquisadores é viabilizar o cultivo comercial dos cogumelos comestíveis.
[Imagem: Mariana P. Drewinski et al. - 10.1186/s43008-024-00171-8]

Micoturismo e cultivo de cogumelos

O crescente interesse por cogumelos comestíveis silvestres cria também diferentes oportunidades e possibilidades de experiências. Uma delas é o micoturismo, ou seja, a atividade turística em torno de fungos, seja para apreciação da beleza e diversidade, seja para experiências gastronômicas.

Outra possibilidade é o desenvolvimento de métodos de cultivo de espécies não convencionais, por meio de estudos de domesticação de espécies silvestres. Para isso, é necessário, além do conhecimento sobre a identidade da espécie, verificar as condições de temperatura, umidade e luminosidade adequadas para o crescimento do cogumelo, identificar os substratos mais apropriados e desenvolver métodos que favoreçam o crescimento do micélio e a formação dos cogumelos, criando um ciclo de cultivo com tempo e custos de produção viáveis para comercialização.

"Em nosso laboratório, já tivemos sucesso no cultivo e formação de cogumelos de dez espécies comestíveis silvestres, todas oriundas da Mata Atlântica. A próxima etapa é estudar o potencial de cultivo em escala comercial e desenvolver estratégias para inserção no mercado," contou o professor Nelson.

Checagem com artigo científico:

Artigo: Over 400 food resources from Brazil: evidence-based records of wild edible mushrooms
Autores: Mariana P. Drewinski, Marina Pires Corrêa-Santos, Vitor X. Lima, Felipe T. Lima, Melissa Palacio, Maria Eduarda A. Borges, Larissa Trierveiler-Pereira, Altielys C. Magnago, Ariadne N. M. Furtado, Alexandre R. Lenz, Alexandre G. S. Silva-Filho, Cristiano C. Nascimento, Renato L. M. Alvarenga, Tatiana B. Gibertoni, Jadson J. S. Oliveira, Juliano M. Baltazar, Maria Alice Neves, Ruby Vargas-Isla, Noemia K. Ishikawa, Nelson Menolli Jr.
Publicação: IMA Fungus
Vol.: 15, Article number: 40
DOI: 10.1186/s43008-024-00171-8
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