Uma vacina brasileira capaz de estimular o sistema imunológico a combater o Trypanosoma cruzi - parasita causador da doença de Chagas - foi testada com sucesso de forma terapêutica em experimentos com camundongos.
De acordo com os resultados publicados na revista PLoS Pathogens, o imunizante aumentou de zero para 80% a sobrevivência de animais infectados e ainda diminuiu a carga parasitária e reduziu sintomas como arritmias cardíacas.
O sucesso é fruto do trabalho de 20 anos do Dr. Maurício Martins Rodrigues, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que contou com parcerias com várias outras instituições brasileiras e estrangeiras.
"Mais de 10 milhões de indivíduos na América Latina convivem com a doença de Chagas já na fase crônica e o tratamento convencional muitas vezes não funciona. A vacinação terapêutica levaria à redução dos sintomas, queda da mortalidade e melhora da qualidade de vida dos doentes", disse o Dr. Maurício.
Vacina terapêutica
A vacina desenvolvida na Unifesp também poderá ser usada para promover uma imunidade profilática contra o T. cruzi, mas, na avaliação de Maurício, o impacto para a saúde pública seria maior se ela fosse usada de forma terapêutica.
"Para usá-la profilaticamente seria preciso imunizar milhares de pessoas, e os países que ainda possuem altas taxas de transmissão do parasita, como a Bolívia, a Venezuela e o Peru, não têm recursos para esse tipo de campanha", disse.
O Brasil possui a logística necessária para a imunização em massa. A transmissão do T. cruzi no país, entretanto, foi praticamente eliminada, ocorrendo apenas em casos isolados e geralmente por ingestão de alimentos contaminados pelas fezes do barbeiro.
"Mas ainda há por aqui muitos pacientes sofrendo com as complicações da fase crônica. Tratar apenas as pessoas já infectadas é economicamente mais viável e factível no médio e longo prazo", disse Maurício.
Remédios adaptados
Entre as principais complicações crônicas da doença de Chagas estão o alargamento dos ventrículos do coração (condição que afeta cerca de 30% dos pacientes e costuma levar à insuficiência cardíaca) e a dilatação do esôfago ou o alargamento do cólon (que acomete até 10% dos infectados e pode levar à perda dos movimentos peristálticos e à dificuldade de funcionamento dos esfíncteres).
Embora medicamentos como o benzonidazol tenham eficácia razoável contra o parasita na fase aguda da infecção, eles apenas conseguem retardar o progresso da enfermidade quando esta evolui para a fase crônica, o que acontece em 30% dos casos.
Na ausência de um tratamento específico, os médicos recorrem a medicamentos usados para combater outras doenças do coração ou do sistema digestivo, capazes apenas de atenuar os sintomas.
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