Inovação da vida
Preocupados em não alimentar discussões anticientíficas e encorajar radicalismos, os cientistas geralmente não falam sobre os problemas das suas teorias, preferindo abordá-los apenas quando encontram uma solução para cada um desses problemas.
É o que está acontecendo agora com a teoria da evolução de Darwin por seleção natural: Acontece que é difícil reconciliar a teoria de Darwin com as principais tendências da evolução, incluindo o aumento da complexidade dos seres e da vida, o controle dos recursos disponíveis e a capacidade de inovação de cada espécie frente aos desafios que encontra.
O professor Owen Gilbert, da Universidade do Texas (EUA), elaborou agora uma hipótese que pode ajudar e reconciliar a teoria com os fatos.
A proposta é que existe uma força alternativa não-aleatória da evolução, que o pesquisador chama de "recompensa natural". Essa recompensa natural atua sinergisticamente com a seleção natural e leva ao aumento da capacidade de inovação - ou avanço - da vida conforme o tempo passa.
Este novo conceito complementa a teoria da evolução de Darwin e lida bem com questões importantes que ela deixa sem resposta, sobretudo a "ação cega" da teoria, com a vida agindo sem um propósito específico.
"Isto pode resolver o mistério de por que a vida se tornou mais inovadora com o tempo," aponta Gilbert.
Recompensa natural
Em vez de assumir que a seleção natural se aplica a "unidades" preservadas há muito tempo - como espécies ou clados -, ou que a seleção natural trabalha para o objetivo de longo prazo da "maximização da aptidão", o pesquisador retrabalhou os fundamentos da teoria evolucionária para mostrar que há espaço para outra força não-aleatória de evolução, a recompensa natural.
Gilbert distingue as unidades genéticas e os períodos de evolução de longo prazo. Enquanto a seleção natural altera as frequências gênicas dentro das espécies, Gilbert argumenta, a recompensa natural altera a abundância total de sistemas genéticos inteiros, incluindo códigos genéticos, redes de genes e módulos regulatórios genéticos compartilhados por espécies e táxons superiores.
Ele propõe que a recompensa natural também se aplica a ciclos de invenção, expansão e extinção, que acontecem ao longo de milhares a milhões de gerações e que, quando repetidos, se estendem profundamente pelo tempo evolutivo.
"Todas as teorias anteriores de macroevolução assumiram que a seleção natural é a única força não-aleatória. Isso significava que os pesquisadores tinham que, ou extrapolar da microevolução para a macroevolução, ou atribuir previsão à seleção natural - o que todos sabem que é uma adulteração da teoria.
"A principal vantagem de invocar a recompensa natural como uma força separada é que isso significa que a seleção natural pode ser usada para explicar a origem gradual de características complexas, sem atribuir onisciência à seleção natural," detalhou Gilbert.
Sem preocupação com o futuro
Em uma analogia com a economia, o pesquisador argumenta que a seleção natural desempenha o papel do inventor cego da natureza, criando complexas "invenções" sem um olho no mercado mais amplo, enquanto a recompensa natural atua como o empresário cego da natureza, espalhando invenções complexas para os mercados ou ambientes que os exigem imediatamente.
"Com essa estrutura, torna-se possível separar claramente os problemas de origem e sucesso, que há muito tempo estão confusos," disse Gilbert. "O resultado são novos insights sobre os principais problemas da biologia."
Em sua conclusão, Gilbert resume a principal implicação da teoria da recompensa natural: "O avanço é explicado como um resultado esperado de duas forças evolutivas determinísticas, seleção natural e recompensa natural, agindo juntas sem previsão para o futuro."
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