Remédio natural contra bactérias
Enfrentar as superbactérias, que evoluíram para se tornar resistentes aos antibióticos, tem exigido o máximo de criatividade dos cientistas.
Essa resistência significa que infecções tidas como triviais podem se tornar fatais, e a comunidade médica teme que, em breve, possamos não dispor de medicamentos para enfrentar essas infecções.
Sem encontrar soluções pelos métodos tradicionais, Jessica Pardoe e colegas da Universidade de Nottingham, no Reino Unido, decidiram focar suas pesquisas na chamada "medicina popular" - mais especificamente, em plantas e outros materiais naturais utilizados por nossos antepassados para lidar com as infecções, antes da descoberta dos antibióticos.
Em 2015, a equipe conseguiu reconstruir um medicamento usado 1.000 anos atrás, conhecido como "colírio de Bald", feito a partir de cebola, alho, vinho e sais biliares.
A fórmula apresentou "uma atividade antibacteriana promissora". Desde então, a equipe vem trabalhando para aprimorar os resultados, verificar os mecanismos de ação e verificar em quais casos o medicamento natural funciona.
Eles acabam de publicar os resultados dos estudos, que comprovam que o efeito bactericida do remédio antigo se estende contra vários tipos de bactérias que tendem a formar biofilmes em ferimentos - biofilmes são comunidades de bactérias que produzem uma matriz extracelular protetora e são resistentes aos antibióticos.
Jessica e seus colegas definem esta descoberta como "de fundamental importância", uma vez que as infecções associadas aos biofilmes representam uma área particularmente problemática. Estas infecções de difícil tratamento ameaçam desde o êxito das cirurgias de rotina até certas terapias contra o câncer.
Combinação de ingredientes
O estudo também revelou que a potente atividade antibiofilmes do colírio de Bald não pode ser atribuída apenas a um ingrediente, como por exemplo, ao alho, mas que requer a combinação de todos os ingredientes do antigo remédio.
Por isso, os autores destacam "a necessidade de explorar não apenas os compostos individuais, como também mesclas de produtos naturais para o tratamento de infecções por biofilmes". O colírio de Bald mostrou-se particularmente promissor para o tratamento das infecções associadas aos pés dos diabéticos.
"[Estes casos] realmente, podem se tornar impossíveis de tratar. Existe um alto risco de que estas úlceras do pé diabético sejam completamente resistentes a qualquer tratamento com antibióticos. Logo, existe o risco de uma pessoa desenvolver sepse [...] tendo que amputar um pé ou uma perna," explicou a Dra Freya Harrison, da Universidade de Warwick, idealizadora do estudo.
A fórmula do remédio foi encontrada pela Dra. Harrison na Biblioteca Britânica, em um dos primeiros textos médicos conhecidos escrito em inglês antigo: o "Bald's Leechbook" (Livro dos parasitas de Bald).
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