Preconceito da "pele grossa"
Eventos negativos na vida podem causar angústia, dificuldades significativas e até traumas que durarão por toda a vida.
Mas, quando se trata de olhar para os eventos negativos na vida de outras pessoas, pessoas mais pobres são vistas como "endurecidas" por esses eventos e, portanto, menos prejudicadas por eles do que pessoas com mais recursos - e essa impressão se sustenta mesmo quando isso é patentemente falso.
Psicólogos da Universidade de Princeton (EUA) descobriram que esse "preconceito de pele dura", como chamaram o fenômeno, ocorre em qualquer situação, seja a pobreza na infância ou na idade adulta, bem como em grupos de brancos, negros, latinos e asiáticos.
Nathan Cheek e Eldar Shafir também encontraram fortes evidências do viés em uma amostra nacionalmente representativa dos EUA e em grupos de pessoas que trabalham com atendimento ao cliente, saúde mental e educação.
Ao longo de todos os experimentos e cenários, o preconceito persistiu: Os participantes geralmente percebiam as pessoas com menos recursos como se elas fossem menos afetadas pelos mesmos eventos negativos do que as pessoas com nível socioeconômico mais elevado.
E isso também não foi motivado simplesmente pela percepção dos ricos. Embora as pessoas pensassem que a ausência de dificuldades deixava os ricos mais vulneráveis, elas sentiam claramente que as dificuldades endureciam os pobres - em outras palavras, as dificuldades prejudicariam os ricos, mas não incomodariam tanto os pobres.
E, explicam os pesquisadores, isso geralmente é falso: "O estresse crônico e as repetidas experiências adversas de vida, do tipo frequentemente encontrado por aqueles que vivem na pobreza, não oferecem proteção contra esses eventos negativos futuros. Pelo contrário, podem exacerbar seu impacto," disse Shafir.
Errado e injusto
Esses resultados têm implicações profundas, de acordo com os dois psicólogos: A suposição de que as pessoas de baixo nível socioeconômico estão mais bem equipadas para lidar com a angústia do que as pessoas de alto nível socioeconômico é disseminada, incorreta e pode levar à negligência institucional e interpessoal dos mais necessitados, exacerbando ainda mais o ciclo da pobreza.
"Se as pessoas em situação de pobreza são percebidas como sendo felizes com menos - menos angustiadas quando as coisas vão mal e mais satisfeitas quando pequenas coisas vão bem - elas podem receber menos cortesia, menos cuidado e menos atenção, junto com maior negligência e mais desrespeito.
"O preconceito da pele grossa corre o risco de concentrar atenção, esforço e outros recursos naqueles que os recebem de forma esmagadora, enquanto exacerba e justifica o fracasso em apoiar os mais necessitados - mesmo quando esse tratamento não é estratégico nem lucrativo, nem mesmo intencional," finalizou Shafir.
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