Ansiedade para confiar
As pessoas são extraordinariamente hábeis em evitar serem exploradas por outras - a menos que sofram de ansiedade.
Psicólogos descobriram que pessoas saudáveis reconhecem facilmente quando as pessoas ao seu redor se tornam cada vez menos confiáveis - e reagem de maneira apropriada, afastando-se delas.
Mas o mesmo não se aplica a quem tem níveis significativos de ansiedade. As pessoas ansiosas continuam a confiar e investir em pessoas que demonstram um comportamento cada vez menos confiável.
"Sabemos de pesquisas anteriores que aprendizado e incerteza estão intimamente ligados," disse a professora Amrita Lamba, da Universidade Brown (EUA). "Este estudo demonstra que, se não temos ansiedade, somos realmente capazes de aprender mais quando detectamos incertezas nas interações sociais, o que nos ajuda a evitar ser explorados e a aprender em quem podemos confiar. Com cada situação social incerta que navegamos, com cada mudança de confiabilidade que observamos nas pessoas, vamos fazendo um ajuste fino das nossas opiniões sobre elas e ajustando nossos relacionamentos com elas de acordo. "
Mas a ansiedade pode destruir toda essa capacidade.
Na sorte, conforme esperado
Os pesquisadores recrutaram 350 voluntários clinicamente diversos - cerca de um quarto dos quais apresentaram sintomas de transtorno de ansiedade generalizada - e projetaram duas atividades que medissem a capacidade dos voluntários de aprender e se adaptar a situações que apresentavam incerteza.
Primeiro, os pesquisadores pediram aos voluntários que apostassem em três máquinas caça-níqueis diferentes. Sem o conhecimento deles, as máquinas foram manipuladas: Uma foi projetada para gerar consistentemente bons ganhos no início, mas começava a dar prejuízo após as primeiras rodadas; a segunda engolia sistematicamente o dinheiro dos voluntários a princípio, mas depois começava a se tornar mais lucrativa; a terceira era inconsistente e sempre resultava em um jogo de soma zero.
Quase todos os voluntários, incluindo aqueles com sintomas de ansiedade, perceberam os padrões das máquinas e ajustaram seu comportamento de acordo: Eles investiram menos dinheiro na primeira máquina após observar uma diminuição na sorte e investiram mais na segunda máquina quando notaram seus retornos melhorando.
Na confiança, as diferenças surgiram
Em seguida, os pesquisadores colocaram os voluntários para participar de um jogo de confiança. Eles disseram aos voluntários que eles participariam de uma atividade com várias pessoas, na qual poderiam dar aos outros jogadores entre 10 centavos e 1 dólar por rodada. O dinheiro que eles distribuíssem em cada rodada imediatamente quadruplicaria em valor. Seus colegas jogadores teriam então a opção de devolver uma parte desse dinheiro ao participante.
Os voluntários estavam, na realidade, jogando o jogo da confiança com algoritmos (bots), não com pessoas. Alguns bots inicialmente devolveram uma grande porcentagem do dinheiro quadruplicado, mas gradualmente se tornaram menos generosos; outros foram inicialmente mesquinhos com as quantias que devolviam, mas aumentaram sua generosidade ao longo do tempo.
Aqui, o comportamento das pessoas saudáveis mudou ainda mais rapidamente do que no jogo de azar - ou seja, elas reagiram à mudança de comportamento nos outros "jogadores", começando rapidamente a dar mais dinheiro àqueles que gradualmente começaram a compartilhar generosa e rapidamente, e passaram a dar menos àqueles que começaram a compartilhar com moderação.
Os voluntários que relataram sintomas de transtorno de ansiedade também começaram com o mesmo padrão, mas, quando encontraram jogadores que começaram generosamente e se tornaram cada vez mais mesquinhos, continuaram a doar grandes porções do seu dinheiro a eles. Em outras palavras, os pacientes ansiosos parecem continuar investindo em relacionamentos que não estavam mais valendo a pena.
Perguntas em aberto
"As pessoas que não têm ansiedade são boas em atualizar sua crença de que alguém é confiável quando os dados começam a dizer que, na verdade, essa pessoa não é tão confiável como era antes," comentou o professor Oriel FeldmanHall. "Mas as pessoas com ansiedade têm problemas com isso. Elas tentam dar às pessoas mais e mais dinheiro, mesmo recebendo sinais de que essas pessoas são menos confiáveis do que pensavam originalmente que elas fossem."
Mas por que os voluntários de alta ansiedade se adaptaram melhor nas máquinas de jogo de azar do que no jogo da confiança? E será que eles estavam mesmo cientes da mudança da confiabilidade dos outros "jogadores" no jogo da confiança?
Os pesquisadores dizem que não está claro o que exatamente estava acontecendo na cabeça das pessoas ansiosas enquanto jogavam o jogo da confiança, e por isso estão projetando novos tipos de experimentos que possam lançar alguma luz sobre os processos de pensamento na presença da ansiedade.
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