24/08/2022

Pernilongos têm olfato anti-falha para garantir que sempre detectarão os humanos

Redação do Diário da Saúde
Pernilongos têm olfato anti-falha para garantir que sempre detectarão os humanos
Antena de um pernilongo com os neurônios olfativos marcados com fluorescência.
[Imagem: Margo Herre]

Teorias sobre o olfato

Quando as fêmeas dos pernilongos procuram um ser humano para picar, elas cheiram um coquetel único de odores corporais que emitimos no ar. E esses odores estimulam os receptores em suas antenas.

O "dogma científico" atual, baseado na pesquisa ganhadora do Prêmio Nobel de Linda Buck e Richard Axel em camundongos, é que os sistemas de detecção de cheiros dos animais seriam primorosamente especializados e organizados. Cada neurônio olfativo teria apenas um tipo de receptor, capaz de detectar um conjunto específico de substâncias químicas e, em seguida, se conectar a apenas uma estrutura (chamada glomérulo) no bulbo olfativo.

Por essa lógica, haveria tipos separados de neurônios que responderiam a um cheiro de morango, por exemplo, outros para manteiga de amendoim, outros ainda para gasolina e assim por diante.

Confiantes nessa teoria, os cientistas partiram então para deletar esses receptores, na tentativa de tornar os humanos indetectáveis para os pernilongos e evitar uma série de doenças.

O que aconteceu, contudo, é que, mesmo depois de eliminar uma família inteira de receptores de detecção de odores do genoma do mosquito, os pernilongos continuaram encontrando uma maneira de localizar os odores humanos.

Embora isto questione frontalmente a teoria mais aceita, ainda não haviam emergido mecanismos alternativos, que poderiam fundamentar a elaboração de uma nova teoria sobre a capacidade de sentir cheiros.

Pernilongos têm olfato anti-falha para garantir que sempre detectarão os humanos
O sistema olfativo dos pernilongos não obedece às teorias científicas atuais.
[Imagem: Margaret Herre et al. - 10.1016/j.cell.2022.07.024]

Cheirador versátil

Agora, pesquisadores descobriram que os pernilongos desenvolveram proteções redundantes contra falhas em seu sistema olfativo, que garantem que eles sempre possam sentir nossos cheiros, um mecanismo que a teoria original não contempla.

"Os pernilongos estão quebrando todas as nossas regras favoritas de como os animais cheiram as coisas," brincou a professora Margo Herre, da Universidade Rockefeller (EUA).

Na maioria dos animais, experimentos têm mostrado que, de fato, um neurônio olfativo é responsável apenas por detectar um tipo de odor - se você perder esse receptor odorífero, todos os neurônios que expressam esse receptor perderão a capacidade de sentir esse cheiro.

Mas este não é o caso dos pernilongos. "Você precisa trabalhar mais para quebrar [a capacidade de sentir cheiros dos] pernilongos porque se livrar de um único receptor não tem efeito. Qualquer tentativa futura de controlar os pernilongos por repelentes ou qualquer outra coisa tem que levar em conta o quão inquebrável é sua atração por nós," disse a pesquisadora Leslie Vosshall.

Mais especificamente, a equipe descobriu que os neurônios estimulados pelo odor humano (1-octen-3-ol) também são estimulados por aminas, outro tipo de substância química que os pernilongos usam para procurar humanos. Isso é incomum porque, de acordo com todas as teorias existentes sobre o olfato dos animais, os neurônios codificam o odor com especificidade estreita, sugerindo que os neurônios 1-octen-3-ol não deveriam detectar aminas.

Checagem com artigo científico:

Artigo: Non-Canonical Odor Coding in the Mosquito
Autores: Margaret Herre, Olivia V. Goldman, Tzu-Chiao Lu, Gabriela Caballero-Vidal, Yanyan Qi, Zachary N. Gilbert, Zhongyan Gong, Takeshi Morita, Saher Rahiel, Majid Ghaninia, Rickard Ignell, Benjamin J. Matthews, Hongjie Li, Leslie B. Vosshall, Meg A. Younger
Publicação: Cell
DOI: 10.1016/j.cell.2022.07.024
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