A epidemia global da influenza H1N1 (conhecida como "gripe suína"), em 2008 e 2009, teve seus efeitos previstos com antecedência pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que coordenou uma estratégia mundial de vacinação para prevenção da doença, seguida inclusive pelo Brasil.
Porém, uma pesquisa realizada por cientistas da USP mostra que o controle da doença evidenciou a dependência do País de vacinas e tecnologias de produção vendidas pelos grandes laboratórios farmacêuticos internacionais.
A pesquisadora Mait Bartollo recomenda que o Brasil aumente os investimentos nos institutos de pesquisa nacionais para poder produzir suas próprias vacinas.
Falta geral de independência
Em 2009, quando a pandemia começou a se espalhar pelo mundo, a OMS enviou um comunicado oficial ao Brasil para que organizasse ações de prevenção contra a doença, o que incluía a vacinação da população.
Para realizar a imunização, o Brasil inicialmente teve de importar as vacinas produzidas pelos grandes laboratórios farmacêuticos internacionais, um grupo de cinco empresas conhecido como "Big Farma".
"Estas indústrias exercem grande influência sobre as políticas da OMS, pois são as principais fornecedoras das vacinas usadas em todo o mundo, inclusive em ações realizadas por Organizações Não-Governamentais [ONGs]", observa Mait. "Mesmo com o Brasil possuindo laboratórios públicos para produzir vacinas em institutos de pesquisa, a tecnologia teve de ser importada, gerando gastos com patentes".
A pesquisadora cita o exemplo da dengue, doença endêmica no País, mas que não possui uma tecnologia própria de vacina de uso massificado. "Para romper o ciclo da dependência do conhecimento técnico vindo do exterior, seria preciso um maior investimento no desenvolvimento de tecnologias adequadas ao contexto da população brasileira", ressalta. "Isso seria necessário não apenas para a dengue, mas também para outras doenças endêmicas, como a malária e a doença de Chagas".
"O Brasil possui centros de pesquisa como o Instituto Butantan e a Fundação Osvaldo Cruz, que criaram vacinas para algumas doenças, como a febre amarela e a poliomielite, um trabalho que deve ser ampliado", afirma. "Em muitos casos, a importação de tecnologias obriga o País a se comprometer com a compra de vacinas de um único fabricante por vários anos".
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