18/03/2025

Fundações da inteligência humana são observadas pela primeira vez

Redação do Diário da Saúde
Fundações da inteligência humana podem ter sido observados pela primeira vez
O estudo dá suporte a uma preocupação crescente de que diferenças entre os neurônios de humanos e de cobaias comprometem as pesquisas científicas.
[Imagem: Jiwen Li et al. - 10.1038/s41467-021-24232-3]

Memória contextual

Cientistas conseguiram observar pela primeira vez como neurônios no cérebro humano armazenam memórias independentemente do contexto em que essas memórias são adquiridas.

Os experimentos confirmaram que os neurônios conseguem distinguir objetos ou pessoas independentemente do seu contexto, possibilitando a formação de relações mais elevadas e abstratas, que constituem a base da inteligência humana - algo não verificado entre os animais.

Este é o primeiro estudo a observar esse comportamento neuronal em humanos. Até agora, pesquisas conduzidas em animais mostraram diferenças significativas na codificação de conceitos (como um lugar específico, objeto etc.) quando o contexto muda. Por exemplo, os neurônios respondem de forma muito diferente se um camundongo encontra um objeto em um local, em comparação com encontrar o mesmo objeto em outro local.

Como resultado, os cientistas acreditavam que as memórias contextuais eram armazenadas em diferentes grupos de neurônios.

Mas tudo apareceu diferente quando a equipe do professor Rodrigo Quiroga, da Universidade de Leicester (Reino Unido), analisou neurônios humanos. Contradizendo resultados anteriores, as respostas neuronais a um conceito específico permaneceram as mesmas quando o contexto mudava, como lembrar de ter visto uma pessoa em locais diferentes.

"O princípio básico da codificação neuronal em humanos é o oposto do que foi observado em outras espécies, o que tem implicações significativas," disse Quiroga.

Fundações da inteligência humana podem ter sido observados pela primeira vez
Isso mostra o quanto estudos de neurociências podem perder quando tentam transferir experimentos feitos em animais para conclusões sobre os seres humanos.
[Imagem: Hernan G. Rey et al. - 10.1016/j.celrep.2024.115218]

Diferenças entre humanos e camundongos

O estudo envolveu dados de nove pacientes na Argentina e no Reino Unido que estavam em tratamento para epilepsia refratária, que tiveram eletrodos implantados para monitorar a atividade de grupos específicos de neurônios. Isso permitiu registrar dados precisos das respostas de cada neurônio, diferentemente de estudos humanos anteriores baseados em registros de ressonância magnética funcional, que não conseguem diferenciar neurônios individuais.

Os pacientes viram duas histórias com o mesmo personagem em diferentes contextos. Graças ao monitoramento de neurônios individuais durante a execução dessa tarefa, os pesquisadores puderam observar quais grupos de neurônios foram ativados e como eles responderam nas duas histórias. Especificamente, eles confirmaram que, se um neurônio respondesse à imagem de uma pessoa, a resposta permanecia a mesma em ambas as histórias. Além disso, quando os pacientes contavam a história eles mesmos, os mesmos neurônios eram ativados segundos antes de se referirem ao protagonista, e também da mesma forma para ambas as histórias.

"As memórias são armazenadas de uma maneira muito mais abstrata nos humanos em comparação a outros animais. Você pode pensar em conceitos ou qualquer outra coisa em termos mais abstratos, independentemente do contexto em que os aprendeu," explicou Quiroga, sugerindo que esta poderia ser uma das fundações da inteligência humana. "Essa habilidade nos permite fazer associações e inferências muito mais abstratas e complexas do que se fôssemos forçados a pensar em cada conceito dentro de um contexto específico e concreto," acrescentou.

Em outras palavras, os humanos podem descontextualizar suas memórias para criar pensamentos mais abstratos do que os animais. E isso mostra o quanto estudos de neurociências podem perder quando tentam transferir experimentos feitos em animais para conclusões sobre os seres humanos.

Checagem com artigo científico:

Artigo: Lack of context modulation in human single neuron responses in the medial temporal lobe
Autores: Hernan G. Rey, Theofanis I. Panagiotaropoulos, Lorenzo Gutierrez, Fernando J. Chaure, Alejandro Nasimbera, Santiago Cordisco, Fabian Nishida, Antonio Valentin, Gonzalo Alarcon, Mark P. Richardson, Silvia Kochen, Rodrigo Quian Quiroga
Publicação: Cell Reports
Vol.: 44, Issue 1115218
DOI: 10.1016/j.celrep.2024.115218
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