Fatores de risco dinâmicos
Quando se trata de saúde, praticamente todos nós poderíamos fazer melhorias, mas a relação com fatores de risco e com a mortalidade muda ao longo do tempo, às vezes de forma surpreendente.
Esta é a conclusão de uma análise de longo prazo com dados de saúde em nível nacional feita por cientistas do Canadá e EUA.
Os pesquisadores pegaram dados de saúde da população nacional de 1988 a 1994 e de 1999 a 2014, e analisaram as chances de mortalidade em cinco anos para pessoas com idade superior a 20 anos. Foram analisados 19 fatores de risco e feitos ajustes nos dados para idade, sexo, categoria de obesidade e etnia.
"Você pode interpretar isso como uma boa notícia ou como uma má notícia, dependendo de como você deseja ver esses números," disse a professora Jennifer Kuk, da Universidade de Toronto. "O que descobrimos é que a relação com os fatores de risco e com a mortalidade muda com o tempo, o que pode ser explicado por fatores como a evolução dos tratamentos e mudanças no estigma social. No geral, a maioria de nós tem algo de errado conosco e hoje é mais provável termos um fator de risco para a saúde no estilo de vida do que nos anos 1980, e isso está realmente associado a um risco de mortalidade ainda maior agora do que antes."
Fatores de risco que não trazem riscos?
Os resultados mostram que, no geral, menos de três por cento das pessoas não tinham nenhum dos fatores de risco. Isto por si só aponta uma verdade incômoda: Ou estamos todos doentes, ou então o conceito de fatores de risco está sendo mal utilizado, exagerado, para dizer o mínimo. Afinal, a longevidade da população tem aumentado ano a ano, e não caído, como seria de se esperar com tantos riscos.
De fato, o estudo também mostrou que a relação entre os fatores de risco e a mortalidade pode ser paradoxal, confirmando a necessidade de que a lista de fatores apontados como de risco precise de uma reavaliação periódica.
Por exemplo, as taxas de tabagismo, há muito associadas a condições que podem levar à morte, como câncer, doenças cardíacas, derrame e diabetes, diminuíram muito graças a fortes campanhas de saúde pública. No entanto, o efeito estatístico é que o risco geral de ser fumante aumentou com o tempo, à medida que o vício se tornou menos comum, mas também devido a uma queda no financiamento das pesquisas na área.
"Se você olhar para a pesquisa do câncer, há muito financiamento em geral, mas especificamente para o câncer de pulmão, ele parece estar associado a uma falha moral e, como consequência, a um financiamento menor," contou Kuk. "Quando você olha para o risco de mortalidade associado ao câncer de pulmão em relação a todos os outros cânceres comuns, ele é extremamente alto. Portanto, acho que essa falta de apoio é prejudicial."
Outro efeito paradoxal ocorreu de modo ainda mais marcante no caso da obesidade: Enquanto a prevalência da condição aumentou, os riscos diminuíram.
"Embora haja cada vez mais pessoas com obesidade, na verdade isso não está resultando em mais mortes ao longo do tempo. E então acho que essa é outra coisa clara que precisamos reconhecer, que somos muito bons em tratar os resultados associados à obesidade. E, independentemente de qual seja o nosso peso corporal, a maioria de nós tem algo em que provavelmente podemos trabalhar," disse Kuk um tanto condescendente, uma vez que também é possível concluir que a obesidde pode não trazer tantos riscos à saúde quanto os cientistas acreditam.
Fatores fora do controle
Outras conclusões do estudo incluem:
Infelizmente, há também fatores que afetam a saúde que estão fora do controle dos indivíduos.
"Quando olhamos para coisas como insegurança alimentar, baixa escolaridade - como sociedade, estamos fazendo com que a saúde não seja uma escolha fácil para muitas pessoas. Precisamos ser sensíveis a isso quando olhamos para esses fatores de risco," disse Kuk.
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