Ética na pesquisa médica
Em um artigo publicado esta semana na revista Science, especialistas advertem que importantes questões éticas nos testes de novas terapias, como as células-tronco, podem não estar recebendo a atenção que merecem.
Os pesquisadores examinaram o modo como os cientistas, os médicos e as autoridades avaliam os riscos e os benefícios ao testar novas drogas em seres humanos pela primeira vez.
Segundo a pesquisa, os cientistas e os reguladores têm tendência a concentrar-se na forma como cada paciente deve ser protegido contra os riscos, e como resultado, negligenciam como os avanços médicos em si pode ser afetados por testes clínicos mal concebidos.
O trabalho foi feito por Alex John London (Universidade Carnegie Mellon) Jonathan Kimmelman (Universidade McGill) e Marina Emborg (Universidade Wisconsin- Madison), todas instituições sediadas nos Estados Unidos.
Testes de terapias inovadoras
Nas últimas décadas, várias terapias altamente inovadoras começaram a ser testadas em seres humanos, incluindo as abordagens genéticas, tratamentos com células-tronco e terapias destinadas a reprogramar o sistema imunológico.
Pacientes com doenças graves frequentemente acotovelam-se para participar desses estudos, na esperança de uma cura.
Entretanto, esses estudos são muitas vezes controversos, já que alguns cientistas e reguladores consideram-nos arriscados demais, enquanto outros sugerem que é antiético negar o acesso dos pacientes criticamente doentes a esses estudos.
Questões éticas fora de foco
Os pesquisadores argumentam que esses debates sobre o acesso aos testes passam por cima das questões éticas. "Neste momento, a supervisão ética é altamente focada em proteger os participantes da pesquisa e dar aos indivíduos o acesso aos avanços científicos," afirma London. "Estas são questões importantes. Mas a supervisão ética deve também assegurar que as decisões sobre o início dos testes com seres humanos sejam baseadas em uma série de considerações que não são facilmente capturadas quando se tem esse foco."
"O que é muitas vezes esquecido," acrescenta Kimmelman, "é que permitir estudos com baixa qualidade científica pode potencialmente prejudicar o empreendimento científico como um todo, porque isso diminui a credibilidade [da ciência], consome os escassos recursos de pesquisa e enfraquece os incentivos para que os cientistas médicos realizem pesquisas da melhor qualidade possível."
Check-list da pesquisa com medicamentos
Para garantir o avanço da pesquisa médica, os autores sugerem que quatro questões devem ser respondidas quando os cientistas propuserem estudos de novas terapias em seres humanos.
São elas:
Os autores sugerem que há casos em que as experimentações em humanos são iniciadas mesmo com respostas insatisfatórias a essas questões.
"Sem um feedback crítico entre os pesquisadores pré-clínicos e clínicos, as comissões de fiscalização e os financiadores, os experimentos perdem o foco e os testes têm alta probabilidade de falhar," observa Emborg. "A cooperação em vários níveis é necessária para a obtenção de resultados significativos em estudos translacionais."
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