Ninguém está imune à desinformação
Quase cinco bilhões de pessoas no mundo recebem suas notícias pelas mídias sociais, e o impacto da desinformação - especialmente durante as eleições - é uma preocupação crescente. Apesar de pesquisas extensivas, ainda não está claro quem é particularmente vulnerável à desinformação e por quê.
"Há muita pesquisa sobre desinformação atualmente, mas com o volume de trabalho tornou-se cada vez mais difícil ver as conexões entre diferentes fatores," explica Mubashir Sultan, do Instituto Max Planck para o Desenvolvimento Humano (Alemanha).
Por conta disso, Sultan e seus colegas conduziram uma meta-análise dos artigos científicos já publicados sobre o assunto, examinando fatores como educação, idade, gênero, identidade política, pensamento analítico, viés partidário, reflexão motivada e familiaridade com notícias, medindo o impacto de cada aspecto nos julgamentos de veracidade de informações incorretas disponíveis online.
Surpreendentemente, os pesquisadores não encontraram um impacto significativo do nível educacional na capacidade das pessoas de distinguir entre informações verdadeiras e falsas - tanto pessoas altamente escolarizadas, quanto pessoas quase sem escolaridade, caem igualmente vítimas de notícias falsas. Isso contradiz a crença generalizada de que indivíduos mais educados seriam menos suscetíveis à desinformação porque no ensino superior as pessoas aprendem o pensamento crítico.
O estudo também contesta suposições sobre idade e desinformação. Embora os adultos mais velhos sejam frequentemente retratados como mais vulneráveis a notícias falsas, a análise descobriu que eles na verdade são melhores do que os adultos mais jovens em distinguir entre manchetes verdadeiras e falsas. Os adultos mais velhos também são mais céticos e tendem a rotular as manchetes como falsas com mais frequência. Paradoxalmente, no entanto, pesquisas anteriores mostraram consistentemente que os adultos mais velhos se envolvem e compartilham mais desinformação online.
Quem acredita mais em notícia falsa
A identidade política também desempenha um papel fundamental na aceitação e disseminação das notícias falsas. A meta-análise confirmou pesquisas anteriores, mostrando que indivíduos que se identificam como conservadores são mais propensos a cair em desinformação do que aqueles que se identificam como progressistas. Os conservadores foram menos precisos na avaliação da veracidade das notícias e tenderam a rotular mais manchetes como verdadeiras, enquanto os progressistas foram mais céticos.
Indivíduos com maiores habilidades de pensamento analítico - ou seja, que são melhores em avaliar logicamente informações, identificar padrões e resolver problemas sistematicamente - tiveram melhor desempenho geral e foram mais céticos, tendendo a classificar notícias falsas como falsas.
As pessoas também são mais propensas a acreditar que notícias que se alinham com sua identidade política são verdadeiras e a desconsiderar notícias que não estão alinhadas com sua identidade política, um fenômeno conhecido como viés partidário. No entanto, uma descoberta contraintuitiva foi que indivíduos com maior pensamento analítico eram na verdade mais suscetíveis ao viés partidário. Essa tendência é conhecida como reflexão motivada, que é um processo cognitivo em que o raciocínio analítico dos indivíduos trabalha contra eles para proteger suas crenças, valores ou afiliações partidárias preexistentes.
Mas o efeito mais forte foi a influência da familiaridade: Quando os participantes relataram já ter visto uma manchete da notícia, eles se mostraram mais propensos a acreditar que era verdade. Essa descoberta ressalta o perigo da exposição repetida à desinformação, principalmente nas mídias sociais.
"Os resultados destacam a necessidade urgente de integrar a alfabetização midiática e as habilidades de pensamento crítico nos currículos escolares desde cedo. Os adultos mais jovens, apesar de serem considerados 'nativos digitais', são menos capazes de distinguir entre notícias verdadeiras e falsas," disse o professor Ralf Kurvers, membro da equipe.
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