Curativo de placenta
Pesquisadores do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into), do Ministério da Saúde, estão desenvolvendo curativos biológicos feitos com um tecido da placenta que normalmente é descartado após o nascimento dos bebês.
O trabalho, que começou em novembro de 2021, envolve a captação e o preparo da membrana amniótica para a produção de curativos que podem agilizar a cicatrização de ferimentos graves.
Após a coleta, a placenta é trabalhada para transformar a parte da membrana amniótica nos curativos. Ao final de cinco dias, o tecido recebe um formato retangular e é armazenado em embalagens que vão para refrigeração, possibilitando a conservação do curativo. Em média, cada placenta resulta em seis curativos.
O objetivo é utilizar a membrana em áreas onde há a retirada de pele para enxerto, como as coxas, principalmente em casos de pacientes que sofreram queimaduras.
Uma das vantagens do novo curativo é que a membrana amniótica retirada da placenta é transparente, diferente da pele do peixe tilápia, por exemplo, que é usada nesses casos. "A membrana amniótica, uma vez retirada do restante da placenta, é completamente transparente. Ela tem aspecto diferente e propriedades também diversas da pele da tilápia, em relação à cicatrização," disse disse Sandra Baião, responsável pela pesquisa.
Coleta da placenta
A coleta não interfere em nada no andamento do parto. "A gente espera o nascimento do bebê. Quando a placenta é retirada pelo obstetra, em vez dela ser dispensada, é feita a coleta de forma estéril e levada para o Into".
O projeto prevê uma segunda fase, quando os curativos começarão a ser utilizados nos pacientes. Para tanto, será coletada uma nova leva de placentas na maternidade Carmela Dutra, unidade da rede municipal de saúde do Rio de Janeiro.
"Nesse momento, a gente ainda não iniciou essa utilização. Estamos ainda na primeira fase de avaliação do curativo biológico à base de placenta, em relação à qualidade e à segurança biológica, para depois utilizá-lo em pacientes," disse Sandra. Ela estima que a segunda etapa deverá ser iniciada ainda este ano.
Regulamentação
Embora o uso da membrana amniótica no tratamento de alguns tipos de ferimentos já seja realizado em países como Estados Unidos, Alemanha e França, no Brasil o projeto ainda é experimental, embora já esteja em vias de regulamentação.
Uma etapa importante para isso envolve o teste da técnica localmente. "Embora a gente tenha referências internacionais, queremos avaliar a aplicabilidade disso na nossa população, no caso, no perfil específico de brasileiros com feridas de difícil cicatrização. A gente acredita que isso vai contribuir bastante para agilizar o processo de regulamentação," disse Sandra.
Porém, não é qualquer ferida que poderá receber curativo à base de placenta. O alvo são ferimentos específicos, que tenham algumas características que dificultem a cicatrização. Nesses casos, o uso da membrana amniótica pode ajudar a acelerar esse processo e, com isso, diminuir o tempo de hospitalização do paciente, o tempo de reabilitação, para que ele possa voltar às suas atividades que tinha antes de sofrer o ferimento.
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