Efeito de esgotamento do ego
Um dos pilares do método científico é que os experimentos devem ser reproduzidos de forma consistente por diferentes pesquisadores em diferentes laboratórios.
Mas uma nova tentativa de replicação de pesquisa, envolvendo 24 laboratórios e mais de 2.100 participantes, não conseguiu reproduzir os resultados de um estudo anterior que sugeriu que o autocontrole é um recurso limitado, que se esgota.
Ao longo dos últimos vinte anos, numerosos estudos forneceram indícios que dão suporte à ideia de que a nossa capacidade de autocontrole é finita - usar o autocontrole em uma tarefa reduziria a capacidade de o indivíduo exercer autocontrole em uma tarefa subsequente.
Por outro lado, estudos mais recentes têm desafiado a força deste chamado "efeito de esgotamento do ego".
Uma compreensão mais clara do efeito de esgotamento ego é importante dado que a nossa capacidade de superar comportamentos impulsivos é fundamental em nosso dia a dia e tem sido implicada em efeitos de longo prazo relacionados com a saúde, a capacidade de realização e o bem-estar das pessoas.
Relatório de Replicação Registrada
Para tentar tirar as dúvidas sobre os resultados conflitantes sobre o esgotamento do autocontrole, Martin Hagger e Nikos Chatzisarantis, da Universidade de Curtin (Austrália) propuseram um Relatório de Replicação Registrada (RRR), um mecanismo por meio do qual cientistas de vários laboratórios utilizam os mesmos métodos e procedimentos para realizar replicações independentes de um experimento.
Um total de 24 laboratórios - da Austrália, Bélgica, Canadá, Estados Unidos, Indonésia e Suécia - completaram as replicações independentes, com um total combinado de 2.141 participantes.
No geral, não se obteve uma confirmação de que o autocontrole seja limitado e se esgote.
Cautela com os resultados
"Será que os resultados atuais sugerem que o efeito de esgotamento do ego afinal não existe? Certamente a evidência atual levanta dúvidas consideráveis dada a estreita correspondência do protocolo com o paradigma de tarefas sequenciais normalmente utilizados na literatura, e as tarefas estreitamente controladas e o mesmo protocolo usado pelos vários laboratórios," escrevem os autores em seu artigo.
Contudo, a equipe pede cautela na interpretação dos resultados. Eles observam que as tarefas utilizadas pelos diversos estudos para medir o esgotamento do ego variam consideravelmente e os resultados podem estar mostrando diferentes mecanismos psicológicos envolvidos.
O trabalho foi publicado na revista Perspectives on Psychological Science.
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