18/07/2024

Alerta: Terapias com células-tronco não têm o que prometem

Redação do Diário da Saúde
Alerta: Terapias com células-tronco não têm o que prometem
Outras pesquisas já haviam concluído que os tratamentos com células-tronco não têm comprovação científica, são caros demais e até perigosos.
[Imagem: Gerd Altmann/Pixabay]

Terapias com células-tronco

Pesquisadores da Universidade da Califórnia em San Diego (EUA) descobriram que duas das terapias com células-tronco administradas com mais frequência, ambas vendidas com finalidades semelhantes e por isso usadas de forma intercambiável, na verdade contêm tipos de células completamente diferentes.

Os resultados desafiam o atual paradigma "uma célula cura tudo" na terapêutica ortopédica com células-tronco e destacam a necessidade de uma caracterização mais informada e rigorosa das terapias com células-tronco injetáveis, antes que elas sejam comercializadas para uso em pacientes.

Os pesquisadores analisaram populações de células de concentrado autólogo de aspirado da medula óssea (CAMO) e fração vascular estromal derivada de tecido adiposo (FVEDTA) coletadas dos mesmos indivíduos. Estas duas terapias têm muitas semelhanças: Ambas são terapias injetáveis derivadas das próprias células do paciente - medula óssea no CAMO e tecido adiposo (gordura) no FVEDTA - e acredita-se que ambas contenham células-tronco mesenquimais/estromais, células que podem diferenciar-se em músculos, ossos e outros tecidos conjuntivos.

Devido às suas semelhanças, as duas terapias são frequentemente comercializadas como "terapias com células-tronco" intercambiáveis e são usadas para tratar uma série de doenças músculo-esqueléticas e de pele, especialmente em atletas profissionais.

No entanto, poucas pesquisas até hoje tentaram caracterizar a composição e a biologia subjacente destas duas terapias. Esta falta de informação impediu investigações clínicas rigorosas sobre as dosagens ideais para estas terapias e, segundo os pesquisadores, incentivou a desinformação na comercialização dos tratamentos na indústria de células-tronco, avaliada em 11,9 bilhões de dólares.

Não tem o que promete

Para preencher esta lacuna, os pesquisadores analisaram 62 populações de células CAMO e 57 populações de FVEDTA para criar um atlas celular que detalha que tipos de células estão presentes em cada terapia, que genes estão ativos nestas células e que proteínas estão presentes.

O atlas revelou que as concentrações de células-tronco mesenquimais nas formulações de CAMO eram extremamente baixas e que, em geral, não havia tipos de "células-tronco" comparáveis em ambas as terapias.

Na verdade, os dois tratamentos tinham composições muito diferentes; O CAMO era composto principalmente por glóbulos vermelhos e brancos, e o FVEDTA era composto principalmente por células do tecido conjuntivo. Além disso, muitas proteínas associadas à função regenerativa estavam ausentes ou encontradas em concentrações extremamente baixas em ambas as terapias, colocando em causa os seus mecanismos de ação e eficácia global.

Além de fornecer um rico recurso para os pesquisadores, as descobertas sugerem que os ingredientes ativos nas terapias biológicas como CAMO e FVEDTA precisam ser definidos de forma mais completa. Também sugerem que o campo como um todo deveria avançar em direção a terapias celulares mais padronizadas, nas quais as doses clinicamente necessárias das concentrações celulares e proteicas tenham sido cuidadosamente quantificadas.

Checagem com artigo científico:

Artigo: Comparative single-cell transcriptional and proteomic atlas of clinical-grade injectable mesenchymal source tissues
Autores: Severin Ruoss, Chanond A. Nasamran, Scott T. Ball, Jeffrey L. Chen, Kenneth N. Halter, Kelly A. Bruno, Thomas C. Whisenant, Jesal N. Parekh, Shanelle N. Dorn, Mary C. Esparza, Shannon N. Bremner, Kathleen M. Fisch, Adam J. Engler
Publicação: Science Advances
Vol.: 10, Issue 28
DOI: 10.1126/sciadv.adn2831
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