16/05/2018

Agrotóxico prejudica a produção de seda

Com informações da Agência Fapesp
Agrotóxico prejudica a produção de seda
Uso intensivo de agrotóxicos em monoculturas pode ser causa da quebra na produção de seda no Brasil.
[Imagem: Daniel Nicodemo]

Abelhas e bicho-da-seda

Um dos problemas do uso de agrotóxicos é o efeito que esses produtos químicos acarretam em outros organismos, além daqueles para os quais foram projetados.

"O crescente uso de agrotóxicos no mundo tem causado problemas ambientais, como a redução da população de organismos não alvo. Devido aos seus efeitos econômicos, a face mais notória desta história é a mortandade mundial de abelhas utilizadas comercialmente para a produção de mel e serviços de polinização," explica o professor Daniel Nicodemo, da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

Mas as abelhas melíferas não são os únicos insetos economicamente benéficos que sofrem pelo uso intensivo dos agrotóxicos na lavoura. "Outro inseto explorado pelo homem que também teve seu desempenho comprometido possivelmente devido à intoxicação por agrotóxicos é o bicho-da-seda," disse Nicodemo.

Sericicultores brasileiros têm relatado a redução na produção de casulos tecidos pelas lagartas, a matéria-prima para a extração do fio da seda mesmo na ausência dos problemas tradicionalmente monitorados e responsáveis por perdas na criação, como doenças, má nutrição e manejo inapropriado.

Piraclostrobina

A equipe liderada por Nicodemo investigou especificamente o efeito do fungicida piraclostrobina, amplamente utilizado em culturas agrícolas, na bioenergética mitocondrial e na produção de casulos de bicho-da-seda.

A aplicação do fungicida nas amoreiras chega a triplicar a mortalidade das lagartas e reduz sensivelmente o tamanho dos casulos que são tecidos pelas lagartas que sobrevivem, causando quebra na produção de seda.

"Essa é uma das possíveis causas das quebras de safra dos sericicultores", disse Nicodemo. Quando aplicado sobre as monoculturas, o agrotóxico, seja ele um inseticida, herbicida ou fungicida, pode acabar sendo carregado pelo vento na direção das propriedades vizinhas ao campo de cultivo, onde podem existir plantações de amoreira, o único alimento do bicho-da-seda.

"A piraclostrobina é um fungicida utilizado para controlar fungos e ainda retarda a senescência vegetal, conferindo maior resistência ao estresse oxidativo em muitas culturas. Tais efeitos poderiam contribuir para a obtenção de folhas de amoreira de melhor qualidade e, sendo assim, os sericicultores maximizariam a produção qualitativa dessas folhas na hora da poda. O objetivo de nossa pesquisa foi verificar se o tratamento das folhas de amoreira com piraclostrobina contribuiria para melhorar a produção de casulos. Os resultados obtidos foram opostos ao esperado," disse Nicodemo.

Há diversos fungicidas comerciais com piraclostrobina em sua fórmula, em associação ou não com outros agrotóxicos.

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