Vírus artístico
Em um experimento que promete causar polêmica e questionamentos éticos, um grupo de cientistas afirma ter manipulado geneticamente um vírus para que ele produza oxitocina - ou ocitocina.
A oxitocina já foi chamada de "hormônio do amor", com sua liberação no cérebro sendo associada a sensações de prazer, bem-estar e felicidade.
Foi nesse conceito, hoje já superado, que a equipe da Universidade City Science Center (EUA) e da empresa de biotecnologia Integral Molecular se baseou para criar sua polêmica droga.
A ideia foi justificada como um "projeto artístico", ou BioArte. Segundo a Universidade, "artistas e cientistas se unem para ganhar novas perspectivas, mas os artistas são capazes de servir como intermediários de comunicação e criação de diálogo em torno de questões científicas complexas. Como parte de cada residência, o artista passa três meses trabalhando em projetos de pesquisa criativa nos laboratórios da Integral Molecular, aproveitando a orientação e a experiência de cientistas treinados."
O resultado foi batizado de Lovesick (doente de amor) por sua idealizadora, a artista-cientista Heather Dewey-Hagborg, que se define como uma bio-hacker.
Ela justifica sua obra de arte de maneira bem-intencionada: "E se o amor e a bondade pudessem se espalhar como um vírus?"
Baseando-se na hipótese de que a oxitocina - ou ocitocina - induz amor e bondade nas pessoas, ela então concebeu "uma intervenção ativista, para disseminar o amor e a bondade e para combater a alienação e a desconexão do presente."
Vírus que produz oxitocina
Ecoando debates recentes sobre edição genética e o papel da ética na ciência, esse "vírus do amor" amplia o diálogo em torno da possibilidade de selecionar as emoções através da biotecnologia.
O vírus geneticamente modificado é baseado em um vetor de vírus inofensivo e não replicável, que é usado em centenas de laboratórios em todo o mundo, segundo a equipe.
Depois de entrar em uma célula e entregar o gene produtor de oxitocina, o vírus também expressa uma proteína fluorescente chamada dsRED, que faz com que as células brilhem em vermelho vivo para sinalizar o "efeito amor" implantado pelo vírus na célula.
Uma nova droga?
A preocupação é: E se o vírus geneticamente manipulado escapar do laboratório e se tornar uma nova droga, replicada por bio-hackers mal-intencionados?
Isso é preocupante porque o saber científico atual já questiona largamente o conceito da oxitocina como "hormônio do amor". Ele tem pelo menos duas caras, tem o mesmo efeito que o álcool, pode causar ansiedade e há alertas de que o hormônio não deve ser receitado para pessoas saudáveis - tudo isso fez com que recentemente a oxitocina passasse a ser chamada de "hormônio da decepção", revelando alguns descaminhos da pesquisa científica.
A criadora do vírus parece bem mais entusiasmada com o futuro da pesquisa: "O Lovesick joga poeticamente com a ideia da paixão romântica como um vírus, e o processo de seguir em frente como construir anticorpos. O Lovesick examina o desejo e intimidade em um futuro genômico onipresente onde a biotecnologia é barata e acessível," disse Dewey-Hagborg.
A equipe da Universidade se justifica dizendo que seu vírus Lovesick só tem a capacidade de funcionar em células em ambiente de laboratório, que ele não seria capaz de se replicar e, garantem, ele não será usado para infectar animais ou pessoas.
Mas, se nem laboratórios de altíssima segurança evitaram o desaparecimento de frascos com vírus mortal nos EUA, o que poderia ocorrer no caso de uma "obra de arte", feita para ser mostrada ao público?
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