28/12/2009

Vício no jogo pode ser tratado com medicações para vícios químicos

Sharon Reis
Vício no jogo pode ser tratado com medicações para vícios químicos
O vício do jogo pode ser tratado com sucesso com medicamentos que diminuem os impulsos e aumentam as inibições, os mesmos utilizados para vícios em substâncias, como álcool e drogas ilícitas.
[Imagem: Wikimedia]

Impulsos e inibições

O vício do jogo pode ser tratado com sucesso com medicamentos que diminuem os impulsos e aumentam as inibições, de acordo com um estudo apresentado na reunião anual do American College of Neuropsychopharmacology (ACNP).

Os pesquisadores verificaram resultados positivos em jogadores tratados com medicamentos frequentemente utilizados para tratar a dependência de substâncias químicas.

Pessoas com o chamado transtorno patológico do jogo mantêm seu comportamento nas apostas mesmo em face das mais danosas consequências para si mesmas e para suas famílias.

Viciados em jogar e apostar

O Dr. Jon Grant e sua equipe da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos, usaram tarefas que mensuram a cognição para identificar o que motiva esse tipo de comportamento extremo de jogar.

Eles convocaram homens e mulheres com diagnóstico primário de jogo patológico em três estudos usando medicações. Os grupos de estudo variaram em tamanho, contando com 70 até 100 participantes cada um.

Os pesquisadores queriam entender como jogadores decidem se devem ou não apostar, centrando-se em dois processos cerebrais: impulso e inibição.

Tipos de jogadores

A fim de agrupar os indivíduos em categorias que consideram as diferenças na sua biologia, Grant separou os jogadores patológicos em dois subtipos principais:

  • jogadores que são movidos por impulso - ou seja, os indivíduos que jogam quando o desejo se torna demasiado forte para controlar;
  • jogadores que não mostram a inibição normal de comportamentos impulsivos - ou seja, os indivíduos que relatam ser incapazes de restringir comportamentos, mesmo quando os estímulos são mínimos ou praticamente inexistentes.

Jogando por impulso

No primeiro subtipo, os jogadores que são movidos por impulsos responderam bem ao tratamento com medicamentos que bloqueiam o sistema cerebral opioide (por exemplo, a naltrexona) ou determinados receptores para o neurotransmissor glutamato (por exemplo, memantina).

Grant também descobriu que a história familiar desempenha um papel importante para refinar este grupo ainda mais. Pessoas com histórico familiar de dependência responderam ainda melhor ao bloqueador de opioides, que outros estudos têm demonstrado ser capaz de diminuir a necessidade de uso de substâncias como o álcool.

Jogando por falta de inibição

O segundo subtipo, jogadores que têm dificuldade em inibir seus comportamentos e reagir ao menor desejo, respondeu bem aos medicamentos que atuam sobre uma enzima específica, chamada COMT (catecol-O-metil-transferase), que desempenha um papel importante no funcionamento do córtex pré-frontal.

Os pesquisadores descobriram que a diminuição da função da COMT pode aumentar a capacidade de inibir o desejo de jogar.

"Ao compreender esses subtipos diferentes, podemos alvejar o núcleo biológico da doença com tratamentos individualizados", diz o pesquisador. "Quando olhamos para o jogo patológico como um vício e tentamos compreender o sentido dos impulsos e das inibições, somos capazes de direcionar o tratamento para a medicação mais eficaz."

Restrições

Contudo, Grant adverte que, embora esses resultados sejam entusiasmadores e que a maioria das pessoas respondeu a estes medicamentos, ainda existem alguns pacientes para os quais estes medicamentos não funcionam.

Pesquisas adicionais são necessárias para refinar ainda mais os subtipos de jogadores e descobrir por que alguns não respondem aos remédios.

O jogo patológico afeta aproximadamente de um a dois por cento da população. Atualmente os tratamentos disponíveis são associados com taxas de recaída extremamente altas.

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