Hábitos a desaprender
Por que os motoristas mais idosos, especialmente aqueles acima dos 70, se envolvem em acidentes de trânsito principalmente em cruzamentos?
A tendência geral é de se atribuir o fato a um declínio cognitivo ou físico, envolvendo maior tempo de reação, pior visão ou pior audição.
Esses fatores são sem dúvida parte do problema - mas sequer são a maior parte do problema.
Cientistas descobriram um fator que é mais importante e que pode ser facilmente corrigido.
O fato é que, dizem os cientistas, os motoristas mais idosos desenvolvem maus hábitos ao volante - mas esses hábitos perigosos podem ser desaprendidos.
Software, não hardware
"É um problema de software, não de hardware," resume Alexander Pollatsek, da Universidade de Massachusetts Amherst (EUA).
"O maior percentual causador de desatenção nos cruzamentos deve-se a uma estratégia ou jeito de pensar que foi adquirido, e não a algum problema com o cérebro das pessoas idosas," completa.
Usando simuladores de alto realismo, os estudos mostraram que os motoristas idosos observaram as zonas de perigo com menos frequência do que seria seguro, comprometendo a segurança.
Os pesquisadores ressaltam que os motoristas mais idosos, mais temerosos de algum acidente ao reconhecer as próprias deficiências físicas, adotam uma cautela excessiva ao dirigir, mas sobretudo focando-se diretamente à frente.
E essa estratégia falha justamente nas intersecções, o que explica porque é aí que eles se envolvem mais em acidentes.
Motorista jovem de novo
Para confirmar que era mesmo uma questão de treinamento, os cientistas avaliaram se um programa educativo poderia eliminar os maus hábitos - o treinamento sozinho não seria capaz de resolver problemas motores ou cognitivos, por exemplo.
Um dos grupos apenas viu a gravação de sua participação. O segundo grupo passou por um "treinamento passivo", uma palestra sobre onde estavam os maiores riscos nas interseções. O terceiro grupo assistiu o replay de sua participação e, ao mesmo tempo, recebeu um feedback sobre seu comportamento.
A maioria dos idosos do terceiro grupo identificou sua própria falha antes que os instrutores precisassem falhar-lhe.
Ao repetir as tarefas, não houve diferença de desempenho nos dois primeiros grupos em relação ao primeiro teste.
O terceiro grupo, porém, depois de repassar suas deficiências, passou a ter um desempenho equivalente ao de motoristas jovens usados como referência.
A avaliação foi repetida 20 meses depois, e os efeitos do treinamento se mantiveram.
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