Lavouras de fumo
O Brasil quer tornar mais conhecidos pela população, principalmente a rural, os danos causados pela lavoura do tabaco à saúde dos trabalhadores envolvidos no seu cultivo e ao meio ambiente.
Mas, sem medidas específicas de divulgação, será difícil avançar no processo de diversificação das áreas onde o fumo é cultivado.
A avaliação é do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, que participou de um seminário organizado pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) para tratar do tema.
Produtores que trabalham no cultivo do fumo - na chamada indústria fumageira - estão sujeitos a diversos riscos, entre eles o de intoxicação por nicotina e agrotóxicos.
"Todo o esforço que nós tivemos para divulgar os danos do fumo à saúde das pessoas, com parcerias com a mídia e o envolvimento de lideranças da sociedade, ajudou a consolidar no país o consenso [sobre o assunto].
"É fundamental construir um consenso no imaginário das nossas populações, sobretudo na rural, do quão danoso é participar da cultura do fumo em qualquer momento da atividade produtiva. Sem ele [o consenso], vamos ter dificuldade de avançar no conjunto de políticas que possa estimular a diversificação", disse o ministro.
Alternativas à cultura do fumo
O seminário ocorre a cerca de um mês da Conferência das Partes (COP 5) da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco da Organização Mundial da Saúde, marcada para novembro, na Coreia do Sul.
O Brasil é signatário do documento que, entre outras coisas, prevê o apoio a alternativas economicamente viáveis aos agricultores de fumo.
Mesmo sem dar mais detalhes de como seria construído esse consenso, Padilha destacou que é preciso desenvolver ações que envolvam vários setores da sociedade para garantir resultados semelhantes aos conquistados com as campanhas de combate ao fumo.
O ministro lembrou que desde o fim da década de 1990 o número de fumantes no país caiu de 35% da população para 15%.
Transição do fumo para culturas saudáveis
O ministro do Desenvolvimento Agrário (MDA), Pepe Vargas, declarou que o principal gargalo para que produtores de fumo diversifiquem sua atividade é a rentabilidade superior à gerada por outras culturas.
Segundo dados apresentados por ele, a renda obtida por hectare cultivado com o cultivo do fumo pode ser de seis a oito vezes maior do que com milho e quatro vezes maior do que a gerada pela produção de leite.
Entre as medidas que o governo vem implementando para apoiar o processo de transição e tornar mais atrativas outras atividades na terra, o ministro citou o programa de crédito subsidiado, que garante taxas de juros mais baixas aos produtores que não cultivem o fumo.
"Também há programas de assistência técnica e apoio à comercialização, mas enquanto houver gente fumando, vai ter gente plantando fumo", disse, destacando que o Brasil é um dos poucos países que têm política de apoio à diversificação produtiva em áreas de fumicultura.
"A gente sempre ficava doente"
Geovane Cognacco é agricultor rural em Leoberto Leal, município a 150 quilômetros de Florianópolis. A propriedade da família, até 2004, era destinada exclusivamente ao plantio do tabaco. Com o apoio de organizações não governamentais locais, como o Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo (Cepagro), que oferece assistência técnica e difunde os conceitos da agroecologia, o pedaço de terra de 60 hectares passou a produzir verduras e uva.
Segundo ele, os casos de mal-estar e de enjoo entre os produtores diminuíram e a rentabilidade aumentou.
"Resolvermos iniciar a transição porque percebemos que não estávamos produzindo alimento. Além disso, com o fumo, a gente sempre ficava doente, tinha muito enjoo. Agora, que deixamos de cultivar esse produto, não existe mais o problema e o rendimento passou de R$ 60 mil por ano para cerca de R$ 100 mil no mesmo período", disse.
Existem cerca de 200 mil famílias de agricultores envolvidas com a produção de fumo, concentradas principalmente na Região Sul.
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