Neuromatemática
Interpretar sonhos é uma arte milenar, embora em larga medida abandonada pela cultura do nosso tempo.
Agora, pesquisadores brasileiros estão tentando deixar de lado o aspecto "arte" e automatizar a interpretação dos sonhos.
Para isso, eles desenvolveram uma técnica de análise matemática de relatos de sonhos, com base nos trabalhos de Sigmund Freud (1856-1939), registrados no livro "A interpretação dos sonhos".
O trabalho foi realizado por um grupo de pesquisadores do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e do Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão em Neuromatemática (Neuromat).
"A ideia é que a técnica, relativamente simples e barata, seja utilizada como ferramenta para auxiliar os psiquiatras no diagnóstico clínico de pacientes com transtornos mentais de forma mais precisa", disse Mauro Copelli, um dos autores do estudo.
Diagnósticos subjetivos
De acordo com Copelli, apesar dos esforços seculares para aumentar a precisão da classificação dos transtornos mentais, o atual método de diagnóstico de psicoses tem sido duramente criticado.
Isso porque ele ainda peca pela falta de objetividade e pelo fato de a maioria dos transtornos mentais não contar com biomarcadores (indicadores biométricos) capazes de auxiliar os psiquiatras a diagnosticá-los com exatidão através de exames clínicos.
Além disso, pacientes com esquizofrenia ou transtorno bipolar muitas vezes apresentam sintomas psicóticos como alucinações, delírios, hiperatividade e comportamento agressivo - o que pode comprometer a precisão do diagnóstico.
Interpretação matemática dos relatos de sonhos
Para tentar eliminar a subjetividade do diagnóstico, os pesquisadores partiram então para a automação da interpretação dos sonhos - na verdade, da interpretação dos relatos dos sonhos.
Inicialmente eles gravaram os relatos dos sonhos de 60 pacientes voluntários, divididos em grupos, alguns já com diagnóstico de esquizofrenia, outros de bipolaridade e os demais, que formaram o grupo de controle, não apresentavam sintomas de transtornos mentais.
As frases dos discursos dos pacientes foram transformadas em grafos, estruturas matemáticas similares a diagramas, nas quais cada palavra dita pelo paciente foi representada por um ponto ou nó, como o feito em uma linha de crochê.
Ao analisar os grafos dos relatos dos sonhos dos três grupos de pacientes - o que é feito por um programa de computador especialmente desenvolvido para isso - os pesquisadores observaram que há diferenças muito claras entre eles.
O tamanho, em termos de quantidade de arestas ou pontos de conexão, e a conectividade (relação) entre os nós dos grafos dos pacientes diagnosticados com esquizofrenia, bipolaridade ou sem transtornos mentais apresentaram variações, afirmaram os pesquisadores.
"Os pacientes com esquizofrenia, por exemplo, fazem relatos que, quando representados por grafos, possuem menos ligações do que os demais grupos de pacientes", disse Natália Bezerra Mota, primeira autora do estudo.
"Todas as ocorrências no discurso dos pacientes com transtornos mentais que no grafo têm um significado aparentemente geométrico podem ser quantificadas matematicamente e ajudar a classificar se um paciente é esquizofrênico ou bipolar, com uma taxa de sucesso comparável ou até mesmo melhor do que as escalas psiquiátricas subjetivas utilizadas para essa finalidade", afirmou Copelli.
Ou seja, a ferramenta matemática não interpreta os sonhos propriamente ditos, apenas analisa o discurso dos pacientes enquanto estes relatam seus sonhos.
Outros pesquisadores já propuseram a construção de uma máquina de gravar sonhos e também já fizeram experimentos gravando conteúdo dos sonhos por meio de neuroimagens.
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