Função da serotonina
Há décadas os cientistas acreditam que o neurotransmissor serotonina tenha como papel principal a inibição de comportamentos.
Uma equipe do Centro Champalimaud (Portugal) acaba de mostrar que esta ideia está errada - que a serotonina pode de fato otimizar comportamentos ativos.
Já se sabe que a serotonina tem múltiplas funções no cérebro. Justamente por isso, detectar o que esta substância efetivamente faz em cada situação representa uma tarefa monumental.
Apesar desse amplo desconhecimento, a serotonina está na base de toda uma classe de medicamentos antidepressivos, o mais conhecido sendo o Prozac®, que aparentemente produz seus resultados aumentando os níveis de serotonina no cérebro.
Ocorre que alguns comportamentos não são afetados pela serotonina, o que já apontava que as teorias estavam, no mínimo, incompletas.
Serotonina promove perseverança
Os estudos científicos até agora sugeriam que o aumento dos níveis de serotonina torna os animais (incluindo os seres humanos) mais predispostos a esperar por uma recompensa - em outras palavras, torna-os mais pacientes. Esses resultados eram compatíveis com a ideia de que a serotonina atua inibindo os comportamentos porque, em muitos casos, a paciência exige adiar uma ação, trocando uma recompensa menor agora por outra maior no futuro.
É esta ideia que acaba de ser posta em xeque.
Eran Lottem e seus colegas demonstraram que a serotonina promove mais do que uma espera passiva - mais do que a simples paciência. O aumento dos níveis de serotonina aumenta a persistência ativa na realização de uma tarefa, mesmo em situações em que não há certeza de que se vai receber uma recompensa futura.
Paciência versus persistência
Ser persistente significa continuar a desempenhar ativamente uma tarefa, mesmo que ela seja desagradável (o que inclui fazer os trabalhos de casa, por exemplo), enquanto muitas formas de paciência só exigem disponibilidade para esperar sem fazer nada.
Acontece que as tarefas utilizadas nos experimentos anteriores não permitiam distinguir entre paciência e persistência. Para isso, Lottem desenvolveu tarefas para os animais de laboratório muito parecidas com a situação com que se defrontam os animais quando à procura de comida no mundo real, incluindo a imprevisibilidade, ou seja, pode ser que haja comida e água em um local em um momento, mas não em outro. Nessas situações, era essencial que os animais mostrassem persistência, ou não encontrariam alimento.
"O que vimos então foi que, quando os neurônios [produtores de serotonina] eram estimulados, os animais tornavam-se mais dispostos a tocar com o focinho durante mais tempo, mesmo quando não recebiam água," contou Lottem. "Portanto, a serotonina não estava inibindo o comportamento, uma vez que, se fosse esse o caso, teriam desistido mais cedo de tentar obter água."
"A ativação dos neurônios produtores de serotonina promove a persistência ativa, e não meramente a paciência," concluiu o pesquisador.
Abraçar a vida
Esta descoberta poderá, em última instância, ajudar melhorar os tratamentos da depressão, uma doença em que a serotonina está envolvida.
"A diferença entre a paciência e a persistência pode parecer sutil, mas a implicação deste resultado não o é: pode ser a diferença entre ficar na cama, enquanto lá fora a vida continua, ou saltar da cama todos os dias para abraçar a vida," disse o professor Zachary Mainen, que liderou o estudo.
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