Pressão econômica
A pressão de grandes grupos econômicos, que fazem do Brasil um dos maiores produtores mundiais de amianto, é apontada como um dos principais motivos para que o uso desse mineral ainda seja permitido no país.
A avaliação é de Guilherme Franco Netto, diretor de saúde ambiental do Ministério da Saúde e especialista em saúde pública. Segundo ele, "questões econômicas" favorecem a produção e o consumo de amianto no mercado brasileiro.
"Nosso trabalho tem sido o de mostrar ao mercado e a setores do governo o mal que essa substância pode causar à saúde das pessoas. Mas sabemos que existe uma tensão nesse debate, já que o Brasil é um grande produtor mundial", disse o especialista em entrevista ao programa Business Daily, da BBC.
Grupo de pressão
O amianto é uma fibra natural extraída através de mineração. Barato e resistente ao calor e ao fogo, é misturado ao cimento para construção de telhas e pisos.
No entanto, a substância, cujo uso é proibido ou restrito em 52 países, solta fragmentos microscópicos no ar que podem provocar diversas doenças pulmonares quando inaladas, inclusive alguns tipos de câncer.
A discussão sobre a proibição do amianto no Brasil está em curso no governo há anos, com diversos ministérios e órgãos federais participando desse debate. O Ministério da Saúde, por exemplo, é contrário ao uso da substância.
No entanto, na avaliação de Netto, os defensores do uso do amianto dentro do governo estão "em vantagem" nesse debate.
"Enquanto não tivermos uma posição final do governo, os defensores do amianto estarão vencendo esse debate, já que a situação atual beneficia esse grupo", disse o diretor do Ministério da Saúde.
Amianto no trabalho
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 125 milhões de pessoas convivem com amianto no trabalho. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que 100 mil trabalhadores morram por ano devido a doenças relacionadas ao amianto.
De acordo com Netto, o Ministério da Saúde tem acompanhado o "aumento" da incidência de câncer de pulmão no país, além de doenças como mesotelioma e asbestose, diretamente ligadas à exposição ao amianto.
"Estamos falando de doenças que vão se manifestar no futuro, mas que exigem uma ação agora. Esse é um grave problema sanitário", diz.
Segundo a Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto (Abrea), o mineral é utilizado em quase 3 mil produtos industriais, como telhas e caixas d'água. O baixo custo do produto e sua alta resistência favorecem o consumo, sobretudo em países em desenvolvimento.
Os países ricos que ainda produzem amianto, como o Canadá, destinam praticamente toda a sua produção para países menos desenvolvidos. Além de ser o quinto maior consumidor, o Brasil também figura entre os três grandes exportadores de amianto do mundo.
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