20/01/2025

Plantas são mesmo inteligentes? Depende da definição de inteligência

Redação do Diário da Saúde
Plantas têm mesmo inteligência? Depende da definição de inteligência
O solidago pode ser um dos primeiros exemplos da "inteligência vegetal".
[Imagem: Georg Slickers/Wikimedia]

Inteligência animal e inteligência vegetal

Biólogos já demonstraram que algumas plantas, como a verga-de-ouro ou solidago (Asteraceae solidago), conseguem perceber outras plantas próximas sem sequer tocá-las, detectando proporções de luz vermelha refletidas nas folhas das suas vizinhas. Quando um herbívoro se aproxima e começa a comer as folhas, a planta adapta sua resposta com base na presença ou não de outra planta por perto.

Será que esse tipo de resposta flexível, adaptável e em tempo real seria um sinal de inteligência nas plantas?

A questão não é fácil de responder, em parte devido à própria dificuldade em definir inteligência. Mas a equipe do professor Andre Kessler, da renomada Universidade de Cornell (EUA), acaba de publicar um novo estudo defendendo a inteligência das plantas.

"Existem mais de 70 definições publicadas para inteligência e não há acordo sobre o que ela é, mesmo dentro de um determinado campo," conta Kessler. De fato, grande parte dos cientistas ainda se restringe à inteligência animal, acreditando que a inteligência requer um sistema nervoso central, com sinais elétricos atuando como meio do processamento de informações.

Alguns botânicos, por sua vez, equiparam os sistemas vasculares das plantas aos sistemas nervosos centrais, propondo que algum tipo de entidade centralizada na planta permite que elas processem informações e respondam.

Mas Kessler discorda desse ponto de vista: "Não há boas evidências de nenhuma homologia com o sistema nervoso, embora vejamos claramente sinalização elétrica nas plantas. Mas a questão é: Quão importante é essa sinalização para a capacidade de uma planta processar sinais ambientais?"

Plantas têm mesmo inteligência? Depende da definição de inteligência
Os experimentos comprovaram que as plantas emitem sinalizações e conseguem processar os sinais físicos (luz) e químicos (compostos orgânicos voláteis) emitidos por outras plantas.
[Imagem: André Kessler et al. - 10.1080/15592324.2024.2345985]

Inteligência das plantas

Para defender a inteligência das plantas, Kessler e seu colega Michael Mueller, reduziram sua definição de inteligência aos elementos mais básicos: "A capacidade de resolver problemas, com base nas informações que você obtém do ambiente, em direção a um objetivo específico," resumiu Kessler.

Como exemplo, a dupla aponta para sua pesquisa anterior investigando o solidago e suas respostas quando a planta é atacada por pragas. Quando as larvas do besouro-das-folhas comem folhas do solidago, a planta emite uma substância química que informa ao inseto que a planta está danificada e é uma fonte pobre de alimento. Esses produtos químicos transportados pelo ar, chamados compostos orgânicos voláteis, também são absorvidos pelas plantas vizinhas, levando-as a produzir suas próprias defesas contra as larvas do besouro. Dessa forma, o solidago empurra os herbívoros para os vizinhos e distribui os danos.

Logo depois eles descobriram que a mesma planta consegue detectar níveis de luz na frequência do vermelho distante. Quando há vizinhos presentes e as vergas-de-ouro são comidas por besouros, elas investem mais na tolerância ao herbívoro, crescendo mais rápido, mas também começam a produzir compostos defensivos que ajudam as plantas a combater os insetos. Quando não há vizinhos presentes, as plantas não recorrem ao crescimento acelerado quando comidas e as respostas químicas aos herbívoros são marcadamente diferentes, embora ainda tolerem quantidades bastante elevadas de herbivoria.

"Isso se encaixa na nossa definição de inteligência," disse Kessler. "Dependendo das informações que recebe do ambiente, a planta muda seu comportamento padrão."

Plantas têm mesmo inteligência? Depende da definição de inteligência
Os primeiros sinais de inteligência em plantas foram detectados há poucos anos.
[Imagem: Steffen Hauser/botanikfoto]

Cérebro das plantas é a própria planta

Aplicar o conceito de inteligência às plantas pode inspirar novas hipóteses sobre os mecanismos e funções da comunicação química das plantas, ao mesmo tempo em que muda a ideia geral dos cientistas sobre o que a inteligência realmente significa.

E o significado de inteligência é uma discussão oportuna, conforme a inteligência artificial se torna um tópico de interesse geral. Por exemplo, Kessler defende que a inteligência artificial não resolve problemas em direção a um objetivo, pelo menos não ainda. "A inteligência artificial, pela nossa definição de inteligência, nem sequer é inteligente," disse ele.

A ideia de inteligência das plantas não é nova: Matemáticos propuseram, ainda na década de 1920, que talvez as plantas funcionem mais como colmeias. Nesse caso, cada célula opera como uma abelha individual, e a planta inteira é análoga a uma colmeia. Em vez de uma sinalização elétrica, por meio de neurônios, há uma sinalização química em todo o superorganismo.

"O que isso significa é que o cérebro da planta é a planta inteira, sem a necessidade de uma coordenação central," defendeu Kessler.

Checagem com artigo científico:

Artigo: Induced resistance to herbivory and the intelligent plant
Autores: André Kessler, Michael B. Mueller
Publicação: Plant Signaling & Behavior
DOI: 10.1080/15592324.2024.2345985
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