18/08/2011

Pessoas curadas do câncer acham que não terão mais a doença

Com informações da Agência USP

Invulnerabilidade

Pesquisadores da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP), ligada à USP, monitoraram pacientes que já tiveram câncer para saber se eles percebem ou reconhecem seu risco de terem a doença novamente e saber se eles fazem os exames adequados.

Contudo, segundo Larissa de Melo Alvarenga, autora do estudo, a maioria deles julga-se livre do risco de uma reincidência.

A maioria os pacientes monitorados eram mulheres com mais de 60 anos.

A pesquisa recolheu informações importantes sobre o estilo de vida dos pacientes, que permitiram observar que eles acreditavam ter baixa probabilidade de adoecer de novo pelo fato de fazerem um acompanhamento médico rotineiro.

Isto é, os pacientes monitoravam sua saúde, e por fazerem isso, achavam que a doença não podia reaparecer.

Fatores emocionais

Quando questionados sobre o que acham que causou a sua doença, a maioria dos entrevistados não soube responder um fato principal, mas deram grande valor aos fatores emocionais.

Fatores externos, tais como álcool, cigarro e sol, também foram listados como possíveis causadores das chamadas neoplasias, enquanto a alimentação não é associada ao câncer por eles.

Outro resultado interessante da pesquisa era de que a maioria das pessoas considerava que não tinha informações suficientes a respeito do câncer, mas mesmo assim não queria aprender mais sobre ele, por lembrarem do período em que a doença atacou como uma época extremamente traumática em suas vidas, evitando, portanto, qualquer coisa que possa vir a lembrá-la.

Larissa conta que este fato foi uma surpresa pra ela, que acreditava que a população ia ter interesse em se prevenir, especialmente porque já tiveram câncer em algum momento.

Ao mesmo tempo, ela confirmou que os aspectos emocionais são tidos pelos pacientes como um dos fatores que levam ao aparecimento da doença, como outras pesquisas já comprovaram.

Percepção de risco

A enfermeira acredita que o perfil do público analisado não interferiu no resultado a respeito da percepção do risco. Ela destaca, entretanto, que as políticas de atenção básica e de Saúde da Família podem ter influenciado.

"Em Ribeirão Preto, a abrangência da estratégia de Saúde da Família é de 11%, muito pouco. Existem cidades em que esse número chega a 90%. Nestes lugares com abrangência maior, acredito que os resultados sejam diferentes dos que obtivemos," compara.

Para Larissa, é preciso mudar algumas práticas básicas do atendimento ao paciente Ela espera que seu estudo mostre a necessidade de conhecer a forma como os usuários atendidos percebem seu risco para câncer e a que atribuem as causas da sua doença, para melhorar as estratégias de diagnóstico precoce, prevenção e promoção da saúde.

Ela acredita ser necessário conscientizar os profissionais da atenção básica (os primeiros com quem um paciente tem contato quando busca cuidar de sua saúde) a, por exemplo, utilizar o seu histórico familiar. É uma ação barata é útil.

Este histórico pode facilitar uma série de diagnósticos e ajudar no tratamento de várias doenças, onde o câncer está incluso. Mas nem sempre ele é devidamente coletado e há muitos prontuários incompletos ou precários.

Mudança de práticas

Larissa voltou à Unidade em que realizou sua pesquisa para contar os resultados aos profissionais de lá. Ela observou que após esse evento, alguns médicos e enfermeiros já mudaram suas atitudes, passando a dedicar mais atenção a estes detalhes.

Assim, a pesquisadora acredita que seu estudo pode alertar profissionais da atenção primária a atender a esses pacientes e a terem cuidado com as anotações nos prontuários, principalmente com o histórico familiar. Além disso, ela espera ver mudanças nas políticas públicas de saúde, para que isso seja devidamente realizado.

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