20/11/2015

Câncer: Oito desafios que a ciência precisa vencer

Com informações da Cell

Em um levantamento inédito, alguns dos principais pesquisadores do mundo na área de oncologia fizeram um levantamento sobre as "grandes questões" que a pesquisa sobre o câncer ainda precisa enfrentar.

No artigo, publicado na revista científica Trends in Cancer, os pesquisadores identificaram oito desafios que a ciência ainda precisa superar para conseguir que o câncer seja vencido.

1. Como transformar o conhecimento sobre mutações em melhores tratamentos?

Há décadas os cientistas têm tentado descobrir as mutações genéticas específicas que podem fazer com que uma célula comece a se dividir descontroladamente.

Hoje já é possível sequenciar os tumores para identificar a raiz genética da doença, mas ainda não foi possível tirar grandes proveitos desses dados genômicos.

"Nas últimas três décadas, eu e David Dolberg mostramos que nem os mais potentes oncogenes são suficientes para formar um tumor, apenas em determinadas circunstâncias," disse Mina Bissell, dos Laboratórios Berkeley, cujas pesquisas já mostraram que o câncer não é causado apenas pela genética.

2. É possível reduzir os diferentes cânceres a um conjunto de traços comuns?

"A noção de que o câncer era uma doença única, como se pode concluir da noção de um conjunto comum de características, foi, naturalmente, uma ilusão," escreve o professor Robert Weinberg, que estuda os mecanismos moleculares do câncer no MIT.

"Embora os princípios gerais da formação do câncer possam se estender amplamente por muitos tipos de tumor, os comportamentos detalhados do câncer fazem com que cada tumor seja uma entidade única - uma invenção única da natureza," completou.

3. Por que devemos nos preocupar com o microambiente do tumor?

As células cancerosas não existem isoladamente. Elas trabalham juntas e cooptam vasos sanguíneos e tecido extracelular normais. Um câncer bem desenvolvido é como um órgão indesejável, roubando recursos do resto do corpo.

A ideia de que o ambiente circundante, onde um câncer cresce, é uma parte essencial do tumor e determina sua sobrevivência, tem forçado os pesquisadores a repensar a forma como os tumores se formam e crescem.

"[Os oncogenes] precisam colaborar com o sistema imunológico e exigir muitos outros passos e eventos para fazer uma célula verdadeiramente maligna. A arquitetura dos tecidos é a chave para entender por que o câncer é uma doença específica de cada órgão," disse Mina Bissell.

4. A epigenética desempenha um papel no câncer?

O que mais se ouve é que os cânceres são definidos pelas mutações genéticas que lhes causam - contudo, mutações genéticas não são a única maneira de alterar o DNA.

O que se pensava saber sobre o câncer está sendo alterado pelo crescente campo da epigenética, que procura compreender as mudanças físicas feitas ao DNA que não alteram o código genético, mas mudam a mensagem codificada, por exemplo, acrescentando um composto químico a uma sequência de DNA de modo que estes genes não sejam expressos.

"A epigenética do câncer foi transformada pela descoberta inesperada que muitos dos genes mais comumente mutados nos cânceres humanos são modificadores epigenéticos, portanto, ligando claramente processos genéticos e epigenéticos no câncer," disse o professor Peter Jones, do Instituto de Pesquisas Van Andel.

5. Será que a imunoterapia cumprirá o que promete?

A imunoterapia do câncer - usar o sistema imunológico natural para combater as células cancerosas - foi um campo tranquilo até que os pesquisadores começaram a demonstrar que ela poderia tratar alguns pacientes que não se beneficiavam das terapias tradicionais.

As células cancerosas são capazes de iludir o sistema imunológico, e estas estratégias imunes acordam as células T do sistema imunológico, fazendo os tratamentos funcionarem melhor com cânceres do sangue e melanomas.

Infelizmente, a imunoterapia não serve para todos, o que faz com que o campo tenha desafios importantes pela frente, tais como a forma de selecionar os pacientes que têm maior probabilidade de se beneficiar da terapia e como determinar a sequência correta para aplicar as terapias em combinação com outros tratamentos.

6. A proteína p53 justificará toda a sua fama?

O gene que codifica a proteína p53 é um dos genes mais frequentemente mutados no câncer. A atividade normal da p53 previne o câncer, mas existem vários tipos diferentes de mutações do gene p53 que provocam o crescimento do tumor e aumentam sua agressividade.

Isso tem atormentado os pesquisadores porque a p53 representa um possível alvo terapêutico que poderia ter um grande impacto em muitos tipos de câncer.

Infelizmente, a complexidade da proteína provou ser mais desafiadora do que os pesquisadores previam inicialmente.

Essas complexidades dão aos pesquisadores muitas linhas de ação, e as drogas atuais já atuam na p53 nas células cancerosas. Essas drogas até funcionam, mas estão associados com efeitos secundários tóxicos e com o desenvolvimento de resistência aos medicamentos.

7. Pode-se tirar proveito das diferenças no metabolismo das células cancerosas?

As células cancerosas usam a energia de maneira diferente das células normais porque os tumores requerem diferentes tipos de combustível para crescer continuamente. Esta propriedade do câncer tem recebido uma onda de interesse nos últimos anos, com os pesquisadores considerando como terapias poderiam interromper o consumo de energia da célula cancerosa.

Um grande problema que essas abordagens metabólicas para o tratamento do câncer estão enfrentando é que as células normais também dependem das mesmas vias metabólicas. Isto significa que os tratamentos que exploram o metabolismo das células de câncer poderiam ter efeitos colaterais semelhantes aos da quimioterapia.

8. Camundongos ainda são relevantes para estudar os cânceres humanos?

Os cientistas acreditam que não estamos muito distantes de uma época em que organoides artificiais, derivados de células doentes, poderão replicar mais fielmente os cânceres humanos em um recipiente de laboratório.

Depois de décadas curando o câncer em camundongos - sem que isso nem sempre se traduza em cura do mesmo câncer em humanos -, esta nova era poderá redefinir a etapa pré-clínica, permitindo testar terapias potenciais diretamente em tecido humano.

Mas os camundongos geneticamente modificados têm gerado muitas ideias inovadoras, e os recentes avanços na manipulação genética têm garantido que nenhum outro sistema experimental atual possa rivalizar com os ratos de laboratório.

Assim, parece que não contaremos com melhores recursos em um horizonte curto de tempo.

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