Será que o livre arbítrio é algo metafísico, de cunho espiritual, ou será meramente uma capacidade mental ou psicológica?
Para surpresa de alguns, mesmo pessoas que afirmam acreditar no conceito de alma - algo que subsiste à morte do corpo - atribuem o livre-arbítrio a critérios bem terrenos.
Um estudo detalhado sobre o tema sugere que, apesar de as grandes visões metafísicas sobre o Universo continuarem largamente disseminadas, elas têm pouco a ver com a forma como as pessoas avaliam o comportamento umas das outras.
Mesmo que a maioria dos entrevistados dissesse acreditar que os seres humanos têm alma, eles julgaram o livre arbítrio e a culpa atribuída por transgressões morais com base em considerações mais pragmáticas.
Em resumo, as pessoas não veem o livro arbítrio como derivado da alma, mas daquilo que os psicólogos costumam chamar de ego.
Robôs, ciborgues e inteligência artificial
Para quantificar se as pessoas definem o livre-arbítrio como sendo metafísico (derivado da alma) ou psicológico (derivado de uma capacidade mental para a escolha independente e intencional), Andrew Monroe, Bertram Malle e Kyle Dillon (Universidade de Brown - EUA) elaboraram vários experimentos.
Esses experimentos, em um ambiente virtual, incluíram um ser humano, um ser humano "acrático" - um ser incapaz de usar seus pensamentos para controlar suas ações -, um ciborgue com um cérebro humano em corpo mecânico, uma inteligência artificial em um corpo humano e um robô avançado.
Os resultados mostraram uma clara diferença entre ter alma e ter livre arbítrio.
No geral, os voluntários afirmaram que cada agente humano (normal ou acrático) tinha uma alma, mas apenas o humano normal tinha livre arbítrio.
Enquanto isso, a grande maioria disse que o ciborgue com um cérebro humano tinha livre arbítrio, mas muitos voluntários afirmaram não acreditar que ele tivesse uma alma.
Quando o assunto foi assumir a culpa por um ato, as pessoas julgaram mais duramente o humano normal e o ciborgue, ambos presumidamente com uma mente com a capacidade de fazer escolhas.
E atribuíram muito menos culpa ao ser humano acrático (apesar de ele ter uma alma na estimativa da maioria) e ao robô totalmente artificial.
Seres não-humanos
Os resultados sugerem que o conceito de alma, embora amplamente difundido, não é facilmente aplicável em situações do dia-a-dia, escreveram os pesquisadores.
E também sugerem que as pessoas podem vir a considerar seres não-humanos como tendo livre arbítrio se eles acreditarem que esses agentes - por exemplo, um robô suficientemente sofisticado - têm a capacidade de escolha independente e intencional.
"Em certo sentido, o que nos unifica ao longo de todas estas considerações é que nós vemos os outros como seres intencionais que podem fazer escolhas, e nós os culpamos com base nisso," resumiu Bertram Malle.
A conclusão parece estar de acordo com outra pesquisa recente, que demonstrou que julgamos resultados, e não intenções.
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