Útil, mas saia rápido
Quando o bebê não nasce totalmente saudável, tudo o que os pais querem é que haja uma UTI neonatal no hospital, onde ele possa ser prontamente atendido.
Mas a intuição desses pais também parece apontar na direção certa: quanto antes o bebê sair da UTI, melhor.
Acontece que o tempo de internação em uma UTI neonatal tem um impacto direto em problemas de comportamento que a criança apresentará posteriormente.
Foi o que descobriu Rafaela Guilherme Cassiano, da USP de Ribeirão Preto (SP).
"Estudos anteriores compararam crianças nascidas pré-termo e a termo, visto que as pré-termo têm maior propensão a apresentar problemas de comportamento. No nosso estudo, avançamos no entendimento do desenvolvimento dos prematuros. O risco existe, mas é identificando esses riscos que podemos elaborar estratégias de proteção, prevenção e intervenção para melhorar o desenvolvimento dessas crianças", disse Rafaela.
Internação e comportamento
O estudo examinou efeitos das características neonatais e sociodemográficas sobre o temperamento e o comportamento na infância em 100 bebês prematuros de 18 a 36 meses de idade com diferentes níveis de prematuridade. Foram aplicadas uma escala de temperamento, que avalia o perfil de temperamento dessas crianças, e uma escala de indicadores e problemas de comportamento.
No grupo, 36 crianças apresentaram displasia broncopulmonar, e 63 apresentaram retinopatia severa da prematuridade, as doenças mais comuns entre prematuros. Crianças com má-formação, grau três de hemorragia intracraniana e com aparente problema cognitivo não participaram do estudo.
O que se observou é que os bebês que precisaram permanecer mais tempo nas UTIs demonstraram indicadores de problemas comportamentais.
"A regulação fisiológica inicial e emocional é uma precursora para a série de processos de regulação de comportamento. Por isso, é importante lembrar que a partir de problemas de comportamento nessa idade é possível identificar indicadores de risco de problemas de comportamento na vida adulta. Até os seis anos de idade temos um potencial de prevenção desses problemas", disse a professora Maria Beatriz Linhares.
UTIs neonatais humanizadas
Para a equipe, o resultado confirma a necessidade de programas de cuidados do desenvolvimento na estrutura das UTIs neonatais, tanto para reduzir experiências estressantes e dolorosas como para melhorar as estratégias de proteção durante o desenvolvimento inicial do bebê.
"Além disso, o ambiente da UTI neonatal tem outros fatores que podem prejudicar o desenvolvimento infantil, como o alto nível de ruído, a alta luminosidade, estímulos tácteis repetitivos e a separação materna", escreveram eles em seu artigo, publicado na revista médica Early Human Development.
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