Animais transgênicos
As plantas geneticamente modificadas, ou plantas transgênicas, já estão largamente disseminadas na natureza, e a sociedade em grande medida já tem informação, embora talvez não ciência, do que está ocorrendo.
Mas o mesmo não está se dando com a liberação de animais geneticamente modificados, que estão sendo soltos sem a disponibilização de informações científicas "sequer razoáveis".
O alerta é de um grupo de cientistas do Instituto Max Planck, da Alemanha.
Segundo eles, há falhas sérias na qualidade científica dos documentos regulatórios e uma falta geral de descrições experimentais precisas que possam ser disponibilizadas para a sociedade antes da liberação desses animais transgênicos.
Efeitos sobre o ser humano
Os cientistas examinaram a soltura na natureza de animais geneticamente modificados que ocorreram na Malásia, Estados Unidos, Ilhas Cayman e no Brasil.
Segundo eles, as preocupações mais urgentes se relacionam com a liberação na natureza de mosquitos e pernilongos que podem potencialmente picar seres humanos.
E, alertam eles, não sabe nada sobre o que essas picadas possam causar ao homem.
Esses animais estão sendo desenvolvidos em laboratório principalmente com o objetivo de eliminar populações da mesma espécie, e que transmitem doenças para os seres humanos, como malária e dengue.
Mas há também experimentos para a criação de insetos transgênicos para controlar pragas na lavoura.
Sem valor científico
O estudo centra-se na regulamentação criada nos Estados Unidos, que agora está sendo promovida como um modelo de regulamentação para insetos geneticamente modificados para ser adotado em nível global.
O primeiro estudo de impacto ambiental desses animais geneticamente modificados foi feito em 2008.
Mas os cientistas levantam dúvidas sobre o valor científico desse estudo - por exemplo, a maioria das abordagens transgênicas aprovadas pelo documento se baseia em apenas dois estudos de laboratório, dentre os mais de 170 estudos disponíveis e citados pelo documento.
Além disso, os dois estudos abordam apenas uma das quatro espécies de animais geneticamente modificados cobertas pelo documento.
Gerações de animais transgênicos
Segundo os pesquisadores, a primeira e mais óbvia questão é se as pessoas que vivem nas Ilhas Cayman, na Malásia e no Brasil, onde os animais estão sendo soltos, podem ser picadas por esses mosquitos geneticamente modificados.
Nas informações, publicadas para as solturas realizadas nas Ilhas Cayman e na Malásia, essa questão foi simplesmente ignorada ou o risco foi considerado inexistente, "já que apenas mosquitos machos foram soltos, e eles não picam".
Contudo, argumentam os cientistas alemães, é muito provável que as filhas dos machos transgênicos liberados piquem os humanos.
Os estudos científicos embasando o desenvolvimento dos animais transgênicos afirmam que eles são "machos parcialmente estéreis", e não "machos estéreis", como se apregoa ao se falar ao público, argumentam os cientistas.
Preocupações científicas
O grupo não afirma categoricamente que esses animais sejam inerentemente perigosos, mas que a confiança do público na legislação pode se perder quando se perceber que preocupações científicas óbvias e plausíveis estão sendo simplesmente deixadas de lado na elaboração dessas legislações.
Os cientistas alegam não ter encontrado nenhum documento publicamente disponível que leve em conta cientificamente os impactos à saúde humana de alguém ser picado por fêmeas transgênicas.
Grandes números de pernilongos geneticamente modificados estão sendo liberados no Brasil e estão sendo avaliados em vários outros países, incluindo França, Guatemala, Índia, México, Panamá, Filipinas, Cingapura, Tailândia, Vietnã e Reino Unido.
As alegações para a liberação dos animais transgênicos na natureza se fundamentam em questões de saúde humana e para o controle de pragas na agricultura.
Práticas questionáveis
Segundo os cientistas, é necessário evitar, no caso dos animais geneticamente modificados, as "práticas questionáveis que caracterizaram o desenvolvimento comercial das plantas geneticamente modificadas."
O artigo completo dos cientistas alemães, em inglês, pode ser acessado na íntegra, e gratuitamente, no endereço http://www.plosntds.org/article/info:doi/10.1371/journal.pntd.0001502.
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