Caquexia
Estudo realizado por pesquisadores do Hospital Universitário (HU) da USP, em parceria com outras instituições, revela que processos inflamatórios podem ter relação com a gravidade do câncer e a desnutrição aguda (caquexia).
Segundo Paulo Sérgio Martins de Alcântara, médico assistente da Divisão de Clínica Cirúrgica e coordenador do estudo no HU, a caquexia é uma síndrome que afeta de 15% a 40% dos pacientes com câncer, sendo responsável por até 20% das mortes causadas pela doença.
Além da perda de peso, ela provoca atrofia muscular, fadiga, fraqueza e perda de apetite e pode ser causada por doenças como câncer, tuberculose, aids, leishmaniose visceral e distúrbios autoimunes.
"A caquexia faz com que o paciente perca muito peso, principalmente massa magra (músculo) e massa adiposa (gordura), sendo que a perda de massa gorda precede a de massa magra", explica o médico.
Processo inflamatório
"Acredita-se que a perda de gordura é resultado da instalação de um processo inflamatório no tecido adiposo, causando liberação de substâncias inflamatórias na circulação. A preservação da massa gorda pode ter papel importante no desenvolvimento da síndrome, evitando a perda de músculo e liberação de substâncias inflamatórias para a circulação", acrescenta Alcântara.
O estudo tem como principais objetivos verificar as alterações moleculares nos diferentes depósitos de gordura e relacionar a possível inflamação desses tecidos com o fornecimento de substâncias inflamatórias no sistema circulatório. Até o momento, a pesquisa revelou que os diferentes estoques de gordura do corpo humano respondem de forma diferente à evolução da caquexia.
Mecanismos da desnutrição
"Procuramos caracterizar o perfil da perda de massa gorda. E, num segundo momento, analisaremos se esses mesmos perfis ocorrem em pacientes. Todas essas informações serão testadas para que no futuro possam ser utilizadas para se avaliar a evolução da doença e estratégias terapêuticas", diz o doutor Alcântara.
De acordo com o médico, o estudo encontra-se em fase inicial e está sendo realizado tanto em tecidos de animais como em tecidos humanos. "Estamos aprofundando nossos estudos para compreender os mecanismos moleculares que controlam a desnutrição, para que num futuro próximo possamos compreender melhor os caminhos para uma intervenção terapêutica, farmacológica ou não."
Na segunda fase, pacientes com câncer gastrointestinal participarão da pesquisa. "Inicialmente, fármacos e fitoterápicos seriam testados em células e modelos animais de caquexia. Com o tempo e a constatação da eficácia, bem como da segurança, serão testados em humanos. Em pacientes caquéticos, iniciaremos a intervenção com exercício físico, que tem propriedades anti-inflamatórias, além de preservar a massa magra e gorda", conclui o coordenador da pesquisa.
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