Dan Brown, o autor de O Código Da Vinci, lança nesta terça-feira nos Estados Unidos seu novo romance, Inferno, com previsão de chegada ao Brasil no mês de junho.
O nome e tema do livro foram emprestados da obra A Divina Comédia, escrita no século 14 por Dante Alighieri (1265-1321).
Em A Divina Comédia, o poeta italiano apresenta na forma de poema uma descrição detalhada do Inferno, do Purgatório e do Paraíso.
No Inferno, Dante, guiado pelo poeta Virgílio, percorre locais onde os pecadores enfrentam punições pelo que fizeram em vida.
O escritor e historiador Stephen Tomkin listou dez curiosidades sobre o inferno, de acordo com o descrito por Dante e outros artistas.
1 - O inferno em formato de cone
De acordo com a descrição de Dante, o inferno consiste em nove círculos concêntricos que se afunilam conforme ficam mais profundos, até chegarem ao centro da Terra.
Para qual deles você é enviado depende do pecado cometido, com círculos destinados aos glutões, hereges e fraudadores.
O rio Aqueronte corre por todo o inferno, separando-o do mundo exterior. Fora do inferno, mas também sofrendo punição, estão as pessoas que nunca fizeram nada de bom nem de mal. Elas são penalizadas pela neutralidade, vagando por toda a eternidade sendo picadas por vespas e tendo o sangue bebido por larvas.
2 - O inferno é diversificado
A imagem moderna do inferno, com chamas e labaredas de fogo como punições universais para todos, é bastante moderada quanto comparada às versões medievais.
A concepção atual é provavelmente um legado do poeta inglês John Milton (1608-1674), cujo poema épico Paraíso Perdido retrata em detalhes um inferno da época de Adão e Eva, descrito como "uma grande fornalha" cujas chamas oferecem "nenhuma luz, mas sim escuridão visível".
Já o inferno medieval descrito por Dante na literatura e pelo holandês Hieronymus Bosch (1450-1516) na pintura não é um ambiente estático. As punições são variadas e se aplicam conforme os pecados cometidos.
Para o poeta italiano, os semeadores da discórdia são cortados em pedaços, e os suicidas vivem como árvores pelo fim dos tempos. Aduladores nadam em mares de excrementos e traidores são condenados a terem suas cabeças comidas por aqueles que traíram. O pintor holandês mostra pessoas sendo excretadas por monstros e homens sendo forçados a se casarem com porcos.
3 - O inferno fica abaixo da terra
Na Idade Média havia o senso comum de que o inferno estava localizado no subterrâneo terrestre, e havia lendas de pessoas que chegaram a ver sua fumaça saindo através de buracos no chão.
Dante estava de acordo e por isso sua concepção coloca Satã na parte mais profunda do inferno, o nono círculo. Na versão de Milton, no entanto, o inferno é distante da Terra, vista como um lugar puro e perfeito, que não comportaria o centro da maldade.
4 - O inferno pode congelar
Na verdade, o inferno é descrito como escaldante, sobretudo na versão de Milton, que descreve colinas, cavernas, praias e pântanos de fogo. Dante mostra um rio de sangue fervente repleto de pessoas culpadas por carnificinas, piras de fogo para os hereges e um deserto onde chove fagulhas de fogo sobre pessoas que cometeram blasfêmias e homossexuais.
Entretanto, para Dante, o demônio está imerso em gelo até a cintura e sempre enfrenta frio, mesmo no calor do inferno. Apesar de todo o fogo, Milton também diz que em algumas regiões do inferno há gelo, neve, granizo e ventania.
5 - O inferno é "outras pessoas"
O inferno de Milton, nos tempos de Adão e Eva, ainda não tem nenhum habitante, apenas demônios.
Mas Dante vê muitos papas no inferno, incluindo Anastácio 2º (que viveu no século 5º), por heresia, e Nicolau 3º (do século 13) pelo pecado de compra de cargos na hierarquia na igreja.
O teólogo Erasmo de Roterdã (1466-1536) escreveu um diálogo chamado Júlio Excluído, onde o papa Júlio 2º (1443-1513) tem sua entrada no paraíso rudemente recusada.
Michelangelo (1475-1564), em seu afresco O Juízo Final, na Capela Sistina, mostra pessoas reais sendo puxadas para o inferno, entre elas um assessor papal, Biagio de Cesena, que se opôs à intenção do artista de incluir nudez em seus trabalhos e é mostrado tendo os genitais comidos por uma serpente.
Dante também coloca no inferno uma série de pessoas que realmente existiram, entre elas alguns amigos, e os famosos traidores Cássio, Brutus e Judas.
6 - O inferno abriga criaturas fictícias
O inferno está cheio de criaturas dos mitos pagãos. Dante vê centauros, o minotauro e o cachorro de três cabeças, Cérbero. Michelangelo inclui Caronte, o barqueiro dos rios Estige e Aqueronte que leva as almas dos pecadores para o inferno. Milton vê a medusa e hidras nas profundezas.
7 - O inferno é um pandemônio
O pandemônio ("todos os demônios"), embora tenha recebido ao longo do tempo a definição de um caos barulhento, é uma palavra inventada por Milton para a capital do inferno, onde Satã e seus seguidores se reúnem em seu Parlamento infernal.
8 - O inferno tem portões
O portão do inferno de Dante tem a famosa inscrição "abandone toda esperança aquele que por aqui entrar".
Menos famosas são as outras oito linhas do texto, que incluem a alegação de que o interior foi criado pela "mais alta sabedoria e amor primordial".
Para Milton, há nove portões: três de bronze, três de ferro e três de rocha, guardados pelo pecado, pela morte e pelos cães do inferno.
9 - O inferno não tem tanto interesse por sexo
Muitos associam o Cristianismo a pecados sexuais, mas o sexo não é citado como uma das causas proeminentes para o castigo no inferno.
Na Divina Comédia, o professor de Dante Brunetto Latini é punido no sétimo círculo por sexo "não natural", mas o pecado de luxúria é punido no segundo círculo (o primeiro sendo o limbo, lugar que costuma abrigar bebês não batizados e aqueles que não cometeram pecados, mas não são cristãos).
Dessa forma, Dante coloca a luxúria como um pecado menos grave do que outros, punidos em círculos mais profundos.
10 - O inferno não é tão bíblico
Muito poucas dessas ideias provêm da Bíblia. O Livro Sagrado não faz referência ao inferno e às chamas - muitos dos detalhes de Dante foram inspirados pelos mitos gregos e romanos, e a vasta maioria das concepções mais recentes são fruto do imaginário medieval ocidental.
Artistas cristãos orientais nunca tiveram o mesmo nível de interesse pelo assunto, e mesmo no Ocidente isso foi algo tardio - a doutrina do tormento perpétuo foi introduzida em 1215, no Quarto Concílio de Latrão, apenas um século antes de Dante.
Nos tempos recentes, os cristãos se tornaram cada vez mais céticos quanto ao inferno. Há 622 versos na Bíblia que mencionam o paraíso, e apenas 15 que mencionam o inferno.
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