Adotar o ponto de vista dos outros
A vida cotidiana é repleta de situações que exigem que adotemos as perspectivas dos outros - por exemplo, ao mostrar um livro a uma criança, intuitivamente sabemos como segurá-lo para que ela possa vê-lo bem, mesmo que seja mais difícil para nós mesmos vermos.
Ou, de maneira mais geral, precisamos de empatia para lidar com amigos, colegas ou mesmo alunos.
Cientistas afirmam ter obtido agora a primeira evidência direta de que assumimos a perspectiva dos outros porque formamos espontaneamente imagens mentais de como o mundo se parece para a outra pessoa, de modo que possamos virtualmente ver através dos olhos dessa outra pessoa e fazer julgamentos como se a visão de mundo dela fosse a nossa.
E esqueça as metáforas: Eleanor Ward, Giorgio Ganis e Patric Bach, da Universidade de Plymouth (EUA), estão falando sobre o que a outra pessoa vê mesmo - vê com seus olhos.
Assumir os olhos dos outros
Os três pesquisadores exploraram uma tarefa de rotação mental, comumente usada em psicologia, onde os participantes devem identificar uma letra conforme ela é apresentada em sua forma padrão (por exemplo, "R") ou invertida ("Я").
Geralmente, quanto mais uma letra é rotacionada em relação à pessoa que a vê, mais tempo leva para que ela decifre sua forma e diga que letra é. A razão para isso é que as pessoas primeiro precisam girar mentalmente o objeto de volta à sua posição vertical antes de poder julgar sua forma, e essa rotação leva mais tempo quanto maior o ângulo de rotação da letra.
Mas o novo experimento revelou que as pessoas podem dispensar essa rotação mental quando outra pessoa é introduzida no ambiente. Mesmo quando as letras têm alto ângulo de rotação, o tempo de decisão mostrou-se surpreendentemente rápido se a letra aparecia de pé para a outra pessoa e, portanto, seria facilmente identificável a partir da perspectiva dessa outra pessoa. Inversamente, se a carta aparecia de cabeça para baixo para a outra pessoa, até mesmo os julgamentos relativamente fáceis se tornaram mais difíceis para os participantes.
"Este estudo mostra que o que vemos pode ser suplantado pelo que uma outra pessoa vê se isso nos ajuda a fazer um julgamento. As pessoas não precisam girar mentalmente um objeto se já elas já 'veem' o objeto na orientação normal pelos olhos do outro.
"As pessoas fizeram isso mesmo quando não lhes foram dadas instruções sobre a pessoa extra apresentada e elas as viam de forma completamente passiva. Elas ainda usavam o 'conjunto extra de olhos', o que sugere que é um processo que ocorre espontaneamente," disse Eleanor Ward.
Empatia ou telepatia?
Se parece leitura mental, telepatia, parapsicologia ou o que seja, é porque parece mesmo. De fato, tudo pareceu tão misterioso e enigmático que a equipe decidiu substituir a outra pessoa por um objeto inanimado.
Quando substituíram a outra pessoa por um abajur - selecionado porque a lâmpada parece "olhar" para a letra -, os tempos de reconhecimento das letras rotacionadas imediatamente voltaram a subir, mesmo que a lâmpada tivesse altura similar e estivesse orientada para a letra da mesma maneira que os olhos da outra pessoa.
Segundo os pesquisadores, isso faz sentido porque uma lâmpada não pode "ver", de modo que os participantes não constroem uma imagem de como o mundo se parece para um objeto inanimado.
"A tomada de perspectiva é uma parte importante da cognição social. Ela nos ajuda a entender como o mundo se parece do ponto de vista de outra pessoa. Ela é importante para muitas atividades cotidianas em que precisamos interagir com outras pessoas. Isso nos ajuda a ter empatia com elas para deduzir o que elas estão pensando.
"Nosso estudo fornece novas percepções de que as pessoas podem fazer isso porque elas rápida e espontaneamente formam uma imagem mental de como o mundo se parece para a outra pessoa. Assim que temos uma imagem mental, é fácil nos colocarmos no lugar da outra pessoa e prever como ela vai se comportar," acrescentou Patric Bach.
O estudo foi publicado na revista Current Biology.
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