Doenças como a deficiência intelectual e os transtornos do espectro autista podem ter como causa alterações na mesma via molecular.
A descoberta, feita por pesquisadores brasileiros, abre a possibilidade de novas abordagens para a forma como entendemos essas enfermidades conhecidas como doenças do neurodesenvolvimento.
"Ao se definir completamente a principal via molecular pela qual essas síndromes ocorrem, uma opção viável é posteriormente focar o tratamento nessa via," disse Elizabeth Suchi Chen, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que fez a descoberta juntamente com sua colega Carolina de Oliveira Gigek.
Doenças do neurodesenvolvimento
Essas doenças são relacionadas a alterações moleculares das células neuronais, que formam o sistema nervoso e o cérebro humano, no momento em que o embrião está se desenvolvendo. Para estudar esses efeitos, as pesquisadoras trabalharam com células neuronais fetais produzidas em laboratório. Fibroblastos, células da pele, foram reprogramados para se transformar em células precursoras neuronais.
"Nos pacientes com doenças agrupadas como síndrome do neurodesenvolvimento, é observada a redução de cerca de 50% da expressão dos genes [TCF4 e EHMT1]; por isso, modificamos as linhagens para apresentarem redução semelhante", disse Carolina.
Após a diferenciação, as células com redução de expressão foram comparadas ao grupo controle, que não sofreu modificações nos genes, em busca das modificações moleculares que haviam ocorrido.
O que se sabia até esta nova pesquisa era que diversas alterações em diferentes genes estavam associadas a doenças do neurodesenvolvimento. "No entanto, observamos que a redução da expressão nesses dois genes levou a uma convergência de alterações moleculares", disse.
Outra descoberta importante do trabalho foi a relação entre a redução de expressão dos genes estudados nas células neuronais e o fato de elas iniciarem mais precocemente o seu processo de diferenciação.
"As células alteradas parecem apresentar uma diferenciação prematura em relação ao desenvolvimento celular normal, o que poderia ser uma causa do problema", disse Carolina. A diferenciação celular é o processo em que a célula-tronco adquire as características que definirão sua função no organismo.
Trabalho à frente
Futuros trabalhos ainda deverão desvendar o mecanismo exato que dispara essa diferenciação precoce da célula.
"Caso o problema seja provocado pela superexpressão do RNA, por exemplo, poderiam ser ministrados inibidores para que a célula não seja estimulada a se diferenciar cedo", exemplificou Carolina. Ela ressaltou, no entanto, que tal terapia ainda dependerá de muito trabalho de pesquisa.
Agora, as pesquisadoras pretendem validar os resultados em outras linhagens de células neuronais, para confirmar os resultados. Também é preciso saber se as alterações moleculares no desenvolvimento humano comportam-se da mesma maneira que as culturas estudadas isoladamente nos modelos. "Por isso, é preciso ainda muito trabalho de pesquisa para confirmar as descobertas, mas o avanço obtido foi considerável", disse Elizabeth.
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