12/04/2024

Do autismo ao Alzheimer, a culpa pode estar no metabolismo do cérebro

Redação do Diário da Saúde
Do autismo ao Alzheimer, a culpa pode estar no metabolismo do cérebro
As pesquisas sobre Alzheimer têm cada vez mais escapado da chamada "hipótese amiloide", que credita a doença às placas formadas no cérebro, mas que nunca gerou um medicamento eficaz.
[Imagem: Tufts University]

Problema metabólico do cérebro

Um grupo de pesquisa global, composto por 131 pesquisadores de 105 laboratórios de sete países, anunciou resultados surpreendentes e promissores sobre distúrbios neuropsiquiátricos que envolvem o comprometimento cognitivo dos pacientes.

A novidade é que alterações no metabolismo energético do cérebro parecem ser um fator chave em uma ampla gama dessas condições, a quase totalidade delas ainda sem tratamentos disponíveis.

Apesar de amplamente sustentada por experimentos com animais, essa linha de pesquisa não vem progredindo no ritmo esperado porque grande parte dos cientistas ainda apoia conclusões de estudos mais antigos, apesar de não estarem dando resultados práticos para os pacientes, como acontece como a hipótese das beta-amiloides da doença de Alzheimer. Por isso a equipe internacional se reuniu para revisar todas as conclusões bem fundamentadas disponíveis até agora envolvendo essa nova rota de pesquisa em neurociência.

O estudo identificou uma disfunção do metabolismo energético cerebral que leva a níveis alterados de pH e lactato como características comuns de distúrbios neuropsiquiátricos e neurodegenerativos, como deficiência intelectual, distúrbios do espectro do autismo, esquizofrenia, transtorno bipolar, transtornos depressivos e doença de Alzheimer.

Um nível elevado de lactato e a diminuição resultante no pH já haviam sido apontados como um potencial componente primário dessas doenças em vários experimentos com modelos animais. Ao contrário dos pressupostos anteriores que associavam essas alterações a fatores externos - como as medicações que estavam sendo testadas - as descobertas do grupo agora indicam que eles podem ser intrínsecos às diversas doenças.

"Este é o primeiro e o maior estudo sistemático a avaliar o pH cerebral e os níveis de lactato em uma série de modelos animais para distúrbios neuropsiquiátricos e neurodegenerativos. Nossas descobertas podem estabelecer as bases para novas abordagens para desenvolver a caracterização transdiagnóstica de diferentes distúrbios que envolvem comprometimento cognitivo," disse o Dr. Hideo Hagihara, líder do estudo.

As conclusões do estudo incluem:

  • I - Fenômeno comum entre distúrbios: Cerca de 30% dos 109 tipos de modelos animais apresentaram alterações significativas no pH cerebral e nos níveis de lactato, enfatizando a ocorrência generalizada de alterações no metabolismo energético do cérebro em várias condições neuropsiquiátricas.
  • II - Fatores ambientais como causa: Modelos que simulam depressão por estresse psicológico, e aqueles induzidos ao desenvolvimento de diabetes ou colite, que apresentam alto risco de comorbidade para depressão, mostraram diminuição do pH cerebral e aumento dos níveis de lactato. Vários fatores ambientais adquiridos poderiam contribuir para essas mudanças.
  • III - Relação com deficiência cognitiva: Uma análise abrangente integrando dados de testes comportamentais revelou uma associação predominante entre níveis aumentados de lactato cerebral e memória de trabalho prejudicada, esclarecendo um aspecto da disfunção cognitiva.
  • IV - Confirmação em Coorte Independente: Essas associações, particularmente entre níveis mais elevados de lactato cerebral e fraco desempenho da memória de trabalho, foram validadas numa coorte independente de modelos animais, reforçando os resultados iniciais.
  • V. Complexidade do Espectro do Autismo: Foram observadas respostas variáveis em modelos de autismo, com alguns mostrando aumento do pH e diminuição dos níveis de lactato, sugerindo subpopulações dentro do espectro do autismo com padrões metabólicos diferentes.

"Esta pesquisa pode ser um trampolim para a identificação de alvos terapêuticos compartilhados em vários distúrbios neuropsiquiátricos. Estudos futuros se concentrarão na descoberta de estratégias de tratamento que sejam eficazes em diversos modelos animais com alterações no pH cerebral. Isso poderia contribuir significativamente para o desenvolvimento de tratamentos personalizados para subgrupos de pacientes caracterizados por alterações específicas no metabolismo energético cerebral," disse o Dr. Tsuyoshi Miyakawa, membro da equipe.

Checagem com artigo científico:

Artigo: Large-scale animal model study uncovers altered brain pH and lactate levels as a transdiagnostic endophenotype of neuropsychiatric disorders involving cognitive impairment
Autores: Hideo Hagihara, Hirotaka Shoji, Satoko Hattori, Giovanni Sala, Yoshihiro Takamiya, Mika Tanaka, Masafumi Ihara, Mihiro Shibutani, Izuho Hatada, Kei Hori, Mikio Hoshino, Akito Nakao, Yasuo Mori, Shigeo Okabe, Masayuki Matsushita, Anja Urbach, Yuta Katayama, Akinobu Matsumoto, Keiichi I. Nakayama, Shota Katori, Takuya Sato, Takuji Iwasato, Haruko Nakamura, Yoshio Goshima, Matthieu Raveau, Tetsuya Tatsukawa, Kazuhiro Yamakawa, Noriko Takahashi, Haruo Kasai, Johji Inazawa, Ikuo Nobuhisa, Tetsushi Kagawa, Tetsuya Taga, Mohamed Darwish, Hirofumi Nishizono, Keizo Takao, Kiran Sapkota, Kazutoshi Nakazawa, Tsuyoshi Takagi, Haruki Fujisawa, Yoshihisa Sugimura, Kyosuke Yamanishi, Lakshmi Rajagopal, Nanette Deneen Hannah, Herbert Y. Meltzer, Tohru Yamamoto, Shuji Wakatsuki, Toshiyuki Araki, Katsuhiko Tabuchi, Tadahiro Numakawa, Hiroshi Kunugi, Freesia L. Huang, Atsuko Hayata-Takano34-, Hitoshi Hashimoto, Kota Tamada40, Toru Takumi40, Takaoki Kasahara, Tadafumi Kato, Isabella A. Graef, Gerald R. Crabtree, Nozomi Asaoka, Hikari Hatakama, Shuji Kaneko, Takao Kohno, Mitsuharu Hattori, Yoshio Hoshiba, Ryuhei Miyake, Kisho Obi-Nagata, Akiko Hayashi-Takagi, Léa J. Becker, Ipek Yalcin, Yoko Hagino, Hiroko Kotajima-Murakami, Yuki Moriya, Kazutaka Ikeda, Hyopil Kim, Bong-Kiun Kaang, Hikari Otabi, Yuta Yoshida, Atsushi Toyoda, Noboru H. Komiyama, Seth G. N. Grant, Michiru Ida-Eto, Masaaki Narita, Ken-ichi Matsumoto, Emiko Okuda-Ashitaka, Iori Ohmori, Tadayuki Shimada, Kanato Yamagata, Hiroshi Ageta, Kunihiro Tsuchida, Kaoru Inokuchi, Takayuki Sassa, Akio Kihara, Motoaki Fukasawa, Nobuteru Usuda, Tayo Katano, Teruyuki Tanaka, Yoshihiro Yoshihara, Michihiro Igarashi, Takashi Hayashi, Kaori Ishikawa, Satoshi Yamamoto, Naoya Nishimura, Kazuto Nakada, Shinji Hirotsune, Kiyoshi Egawa, Kazuma Higashisaka, Yasuo Tsutsumi, Shoko Nishihara, Noriyuki Sugo, Takeshi Yagi, Naoto Ueno, Tomomi Yamamoto, Yoshihiro Kubo, Rie Ohashi, Nobuyuki Shiina, Kimiko Shimizu, Sayaka Higo-Yamamoto, Katsutaka Oishi, Hisashi Mori, Tamio Furuse, Masaru Tamura, Hisashi Shirakawa, Daiki X. Sato, Yukiko U. Inoue, Takayoshi Inoue, Yuriko Komine, Tetsuo Yamamori, Kenji Sakimura, Tsuyoshi Miyakawa
Publicação: eLife
DOI: 10.7554/eLife.89376.3
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