18/06/2010

Especialistas propõem nova forma de diagnosticar desmaios repentinos

Rosemeire Soares Talamone - Agência USP

Desmaios repentinos

Após quase dois anos de estudos conjuntos, um grupo de pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP está propondo um novo protocolo para a avaliação da Síncope Vasovagal, que é benigna, mas atinge cerca de 3% da população masculina e 3,5% da feminina, principalmente adultos jovens.

A Síncope Vasovagal, caracterizada por desmaios repentinos, pode comprometer a qualidade de vida das pessoas em função de traumas causados por quedas e ser mais agravante ainda se essa pessoa estiver dirigindo, por exemplo.

O que é Síncope Vasovagal

Todas as pessoas têm oscilações pequenas e constantes, imperceptíveis, quando ficam de pé, uma espécie de correção no corpo que melhora a eficiência do retorno do sangue venoso para o coração.

Mas quando há um desbalanço do sistema periférico, ou seja, o sangue fica acumulado nos membros inferiores mais que o normal, pode-se diminuir o débito cardíaco de uma forma tal que a pessoa desmaia.

Esse desmaio é chamado de Síncope Vasovagal.

O que ocorre é que o coração bombeia o sangue pelas artérias para irrigar o corpo e, no retorno deste sangue dos membros inferiores, a contração muscular aperta as veias para o sangue vencer a barreira da gravidade e voltar em direção ao coração.

Se ocorrer alguma falha nesse retorno o sangue fica parado nos membros inferiores e a pessoa começa a aumentar as estratégias de contração muscular para o sangue voltar para o coração e, consequentemente, aumenta a oscilação da postura.

Esse balanço postural também depende de outros sistemas como a visão. O componente muscular nesta oscilação é também para melhorar a eficiência deste retorno venoso. A pessoa com síncope apresenta uma falha nesse processo, oscilando mais e culminando com o desmaio.

Protocolo de diagnóstico

A proposta do novo protocolo para avaliação da Síncope Vasovagal, feita pelos médicos brasileiros, será apresentada de 16 a 19 de Junho no Congresso Mundial de Cardiologia, em Pequim, na China.

Segundo os especialistas, atualmente o método usado na avaliação da Síncope Vasovagal é composto por protocolos internacionalmente estabelecidos, com testes de mudança postural, onde o paciente fica em média 45 minutos imóvel ou até o surgimento da síncope.

São dois tipos de testes, ativo: onde a mudança da postura deitada para de pé se dá ativamente pelo próprio esforço do paciente e simula situações do dia-a-dia, como ficar de pé em uma fila de banco; e passivo: cuja mudança de postura é realizada por uma mesa que coloca a pessoa de pé sem esforço muscular do paciente.

Por isso, a preocupação dos pesquisadores da FMRP em padronizar estes dois testes, e analisar seus efeitos.

Manobra de Valsalva

O fisioterapeuta Rogério Liporaci aplicou os dois testes em 15 mulheres saudáveis, sem história prévia de síncope, em dias distintos e em média por 15 minutos. Avaliou tanto as respostas cardiovasculares quanto as alterações na oscilação do centro de pressão do corpo.

Para tentar diminuir o tempo de exposição ao teste e o esforço do paciente, introduziu na avaliação a Manobra de Valsalva, uma expiração forçada já documentada cientificamente e que é similar ao uso de drogas vasodepressoras, que diminuem a pressão arterial, e assim pode induzir a Síncope.

"Os resultados mostraram que o protocolo com tempo reduzido de testes, no máximo 15 minutos, associado à Manobra de Valsalva, mostrou-se eficiente, aumentando a oscilação da postura, e pode ser uma alternativa às avaliações existentes. O novo protocolo serve tanto para a forma passiva como ativa e a padronização destes protocolos, para facilitar as comparações entre os dois testes, ainda não está documentado na literatura científica", comemora Liporaci.

Equilíbrio da postura

O grupo de pesquisadores quis avaliar também os efeitos das alterações cardiovasculares no balanço postural do paciente. Esse balanço foi avaliado numa plataforma de força e a parte muscular por meio de eletromiografia, que registra a atividade elétrica da musculatura.

Segundo Marcelo Saad, fisioterapeuta que participou do estudo, foi verificado que o paciente com Síncope Vasovagal não tem só uma falha cardiovascular momentânea, mas tudo indica que tenha também uma falha muscular, de contratilidade dos membros inferiores.

Segundo os pesquisadores, o sedentarismo é um fator agravante para o surgimento da Síncope Vasovagal, uma vez que o treinamento físico fortalece a musculatura e ajuda no bombeamento sanguíneo. Já exercícios físicos posturais e outras técnicas de tratamento como a cabeça elevada durante o sono, são tratamentos não farmacológicos que podem ajudar no combate à síncope.

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