25/11/2020

Como a vacina da poliomielite ocasionalmente se torna perigosa

Kelly Malcom - UofMHealth
Como a vacina da poliomielite ocasionalmente se torna perigosa
Um dos maiores êxitos da medicina moderna, a vacina contra a pólio ainda apresenta efeitos pouco compreendidos.
[Imagem: Andrew L. Valesano et al. - 10.1016/j.chom.2020.10.011]

Doença que se origina da vacina

As vacinas contra a poliomielite, desenvolvidas por Jonas Salk e Albert Sabin em meados da década de 1950, permitiram a eliminação da poliomielite na maior parte do mundo, salvando inúmeras crianças da paralisia súbita e mesma da morte.

Em muitos países pobres e em desenvolvimento, no entanto, surtos de poliovírus ainda ocorrem esporadicamente, uma consequência irônica da própria vacina contra a poliomielite.

"A maioria dos surtos do vírus da poliomielite tipo 2 é causada pela vacina. Então você tem um problema em que nossa melhor arma é a mesma vacina, então você está meio que combatendo o fogo com fogo," afirma o Dr. Adam Lauring, da Universidade de Michigan (EUA).

A vacina da poliomielite vem em dois tipos: a vacina Salk, feita com um vírus morto, e a vacina Sabin, feita com um vírus vivo, mas enfraquecido, ou atenuado. A vacina Sabin tem várias vantagens para uso no mundo em desenvolvimento, incluindo o fato de que não precisa ser mantida resfriada e, por ser uma vacina oral, não requer agulhas.

No entanto, como contém um vírus da poliomielite vivo, embora enfraquecido, esse vírus é capaz de evoluir para formas mais virulentas e causar surtos meses ou anos após uma campanha de vacinação.

Em um novo artigo científico, a equipe do professor Adam Lauring descreve um estudo inovador que lhes permitiu ver a evolução do vírus da vacina para uma forma perigosa em tempo real.

Vírus "melhor"

O estudo genético do poliovírus da vacina permitiu que eles vissem a evolução do vírus da vacina em uma forma mais perigosa em tempo real.

"Há um monte de trabalho sendo feito para tentar entender como o vírus volta de atenuado a virulento," disse Lauring. "O que não sabemos é o que ele está fazendo nessas primeiras semanas ou meses [após a vacinação]. Esta foi uma oportunidade de ver estes primeiros passos."

A equipe foi capaz de confirmar três mutações críticas que anteriormente outros pesquisadores haviam deduzido como sendo necessárias para que o vírus se tornasse virulento novamente, identificando pela primeira vez a taxa de mutação para esses genes de semana a semana. Eles também descobriram que o vírus atenuado da pólio evolui extremamente rápido dentro dos hospedeiros - muito mais rápido do que o que normalmente é visto com outros vírus em períodos tão curtos.

"Ocorreram várias mutações que foram selecionadas porque ajudaram o vírus a ser um vírus melhor," disse Lauring. Ele observa que esta poderia ser uma visão crítica para fins de vigilância de doenças. Por exemplo, o esgoto poderia ser analisado em busca de sinais desses tipos de mutações, servindo como um sistema de alerta precoce de um potencial surto.

Freio na transmissão

O trabalho também revelou uma boa notícia: Embora o vírus fosse excelente em evoluir dentro de uma pessoa, essas mudanças não foram facilmente transmitidas de pessoa para pessoa.

"Apesar de toda a evolução que acontece em uma pessoa, a transmissão tende a freá-la e realmente retarda as coisas," disse Lauring.

No entanto, de vez em quando, um vírus aprimorado chega a um novo hospedeiro e ganha um ponto de apoio, desencadeando a doença.

A esperança, explica Lauring, é que este trabalho "sirva como base para uma maneira melhor de ajustar a vacina para que você tenha menos desvantagens e ainda mantenha suas vantagens - que de fato é uma vacina muito eficaz".

Checagem com artigo científico:

Artigo: The early evolution of oral poliovirus vaccine is shaped by strong positive selection and tight transmission bottlenecks
Autores: Andrew L. Valesano, Mami Taniuchi, William J. Fitzsimmons, Ohedul Islam, Tahmina Ahmed, Khalequ Zaman, Rashidul Haque, Wesley Wong, Michael Famulare, Adam S.Lauring
Publicação: Cell Host & Microbe
DOI: 10.1016/j.chom.2020.10.011
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