Números maiores
Cerca de 11 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos no Brasil.
De acordo com o primeiro boletim epidemiológico sobre suicídio divulgado pelo Ministério da Saúde, entre 2011 e 2016, 62.804 pessoas tiraram suas próprias vidas no país.
A taxa de mortalidade por suicídio entre os homens foi quatro vezes maior que a das mulheres - 79% delas são homens e 21% são mulheres. São 8,7 suicídios de homens e 2,4 de mulheres por 100 mil habitantes.
Já as tentativas de suicídios são mais frequentes em mulheres. Das 48.204 pessoas que tentaram tirar a própria vida entre 2011 e 2016, 69% era mulheres e 31% homens. A proporção de tentativas, de caráter repetitivo também é maior entre as mulheres. Entre 2011 e 2016, daqueles que tentaram mais de uma vez, 31,3% são mulheres e 26,4 são homens.
Para Fátima Marinho, do Ministério da Saúde, o número real é maior pois há uma perda de diagnóstico dos casos de suicídio. Segundo ela, nas classes sociais mais altas há um tabu sobre o tema, questões relacionadas a seguros de vida e diagnósticos feitos por médicos da família. "As pessoas mais pobres, em geral, captamos a morte porque ele vai pro IML [Instituto Médico Legal]", explicou.
Suicídio entre idosos
Os idosos, de 70 anos ou mais, apresentaram as maiores taxas, com 8,9 casos para cada 100 mil habitantes, mas, segundo Fátima, em números absolutos, a população idosa vem aumentando. Além disso, eles sofrem mais com doenças crônicas, depressão e abandono familiar. Ela explica que esse índice alto entre idosos é observado no mundo todo.
Os dados apontam que 62% das ocorrências foram causadas por enforcamento. Entre os outros meios utilizados estão intoxicação e arma de fogo. Fátima conta que nos Estados Unidos são registrados mais suicídios por armas de fogo porque o acesso é mais facilitado.
A proporção de óbitos também foi maior entre as pessoas que não têm um relacionamento conjugal, 60,4% são solteiras, viúvas ou divorciadas e 31,5% estão casadas ou em união estável. "E os homens casados se suicidam menos. O casamento é um fator de proteção para os homens e de risco para as mulheres," disse Fátima, explicando que existe uma associação das tentativas de suicídio das mulheres com a violência intradomiciliar. Ela compara que as mulheres tentam mais e, por outro lado, os homens anunciam menos, mas são os que mais morrem por suicídio.
Fatores de risco e proteção
Entre os fatores de risco estão transtornos mentais, como depressão, alcoolismo, esquizofrenia; questões sociodemográficas, como isolamento social; psicológicas, como perdas recentes; e condições incapacitantes, como lesões desfigurantes, dor crônica e neoplasias malignas. No entanto, o Ministério da Saúde ressalta que tais aspectos não podem ser considerados de forma isolada e cada caso deve ser tratado de forma individual.
Pessoas que trabalham na agropecuária, que tem contato com pesticidas, também são vulneráveis a cometerem suicídio por intoxicação. Como a ocorrência é grande entre os indígenas, ser indígena por si só já é um fator de risco, explicou Fátima.
Ela explica que, no caso da Região Sul, existe a associação dos casos de suicídio com a agricultura, especificamente a cultura da folha do tabaco. Segundo Fátima, a folha verde do fumo pode causar uma intoxicação neurológica em quem mantém um contato muito próximo, "o efeito dessa intoxicação é chamada bebedeira da folha verde do fumo".
Além disso, o pesticida usado nessa cultura contém manganês, que é absorvido e depositado no sistema nervoso central. Fátima ressalta, entretanto, que esta é uma associação e que ainda não existe o nexo causal entre esse tipo de pesticida e os casos de suicídio.
"Então temos o risco ocupacional e a pressão social e econômica em cima de agricultores familiares. É uma exposição conjunta", disse a diretora. Ela explicou que as políticas de incentivo para a diversificação das culturas no sul do país não tiveram um impacto importante pois o tabaco ainda é muito lucrativo.
Segundo o Ministério da Saúde, a existência de um Centro de Atenção Psicossocial (Caps) no município reduz em 14% o risco de suicídio. Na verdade, este foi o único fator de proteção identificado. Fátima ressalta, entretanto, que é preciso uma melhor distribuição desses centros, principalmente nas áreas com mais concentração de mortes desse tipo. Existem hoje no Brasil 2.463 centros em funcionamento.
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