Imprecisão humana
Nós gostamos de pensar em nós mesmos como criaturas racionais, absorvendo informações, pesando-as cuidadosamente e tomando decisões bem pensadas.
Ocorre, porém, que tudo o que estamos fazendo é enganando a nós próprios.
Ao longo das últimas décadas, os cientistas têm mostrado que há muitos fatores internos e externos que influenciam o modo como pensamos, sentimos, comunicamos e tomamos decisões em um determinado momento.
Uma influência particularmente poderosa pode vir de nossos próprios corpos, segundo uma nova pesquisa publicada na revista científica Current Directions in Psychological Science.
Hipótese da especificidade do corpo
O cientista cognitivo Daniel Casasanto mostrou que peculiaridades dos nossos corpos afetam o nosso pensamento de forma previsível, em diversas áreas da vida, da linguagem e das imagens mentais até as emoções.
Pessoas vêm em todas as formas e tamanhos, e as pessoas com diferentes tipos de corpos pensam de forma diferente - uma ideia que Casasanto chama de "hipótese da especificidade do corpo".
Uma forma que nossos corpos parecem moldar a nossa tomada de decisão é através da lateralidade: ser destro ou canhoto.
Mentes destras e canhotas
Casasanto e seus colegas exploraram se ser destro ou canhoto pode influenciar os nossos juízos sobre idéias abstratas, como valor, inteligência e honestidade.
Por meio de uma série de experimentos, eles descobriram que, em geral, as pessoas tendem a preferir as coisas que encontram no mesmo lado que a sua mão dominante.
Quando era perguntado aos participantes qual de dois produtos comprar, qual de dois candidatos contratar ou qual das duas criaturas alienígenas parecia mais confiável, os destros escolheram o produto, pessoa ou criatura que viam no lado direito da página.
Os canhotos preferiram muito mais as escolhas à esquerda.
Esses tipos de preferências foram identificados até em crianças com apenas 5 anos de idade.
Mudar o corpo muda a mente
Mas por que a nossa lateralidade importa quando se trata de fazer tais avaliações abstratas?
Tudo se resume à fluência, de acordo com Casasanto.
"As pessoas gostam mais de coisas quando elas são mais fáceis de perceber e de interagir," diz ele.
Os destros interagem com seu ambiente mais facilmente à direita do que à esquerda - assim, eles associam "bom" com "direita" e "mau" com "esquerda".
Contudo, essa preferência por coisas do nosso lado dominante não é gravada na pedra.
Destros que tiveram suas mãos direitas permanentemente deficientes começam a associar "bom" com "esquerda".
O mesmo vale para os destros cuja mão "boa" está temporariamente em desvantagem durante os experimentos no laboratório.
"Depois de alguns minutos atrapalhando sua mão direita, os destros começaram a pensar como os canhotos," diz Casasanto. "Se você mudar os corpos das pessoas, você muda suas mentes."
Tirando vantagens
É claro que esta associação tem implicações fora dos laboratórios.
A hipótese da especificidade do corpo pode desempenhar um papel até mesmo no comportamento eleitoral.
Casasanto assinala que muitos estados [nos Estados Unidos] ainda usam cédulas com os nomes dos candidatos listados à esquerda e à direita.
"Como cerca de 90 por cento da população é destra," diz Casasanto, "as pessoas que querem atrair clientes, vender produtos ou obter votos devem considerar que o lado direito de uma página ou de uma tela de computador pode ser o lugar 'certo' para ficar."
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