Mercúrio nos peixes
Os elevados níveis de mercúrio encontrados no cação prejudicam a utilização deste peixe na alimentação e trazem riscos para a saúde dos consumidores. Uma técnica desenvolvida na Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP removeu até 91,3% do mercúrio existente no músculo do cação, sem prejudicar o teor de proteínas, o que abre a possibilidade do emprego do peixe tratado em alimentos processados.
Mercúcio de origem natural
"Cerca de 50% do cação disponível comercialmente excede o nível de mercúrio permitido pela legislação brasileira, que é de 1 micrograma por grama de peixe, tornando-o impróprio para consumo", alerta o professor da FCF, Alfredo Tenuta Filho, autor da pesquisa. O metal não é proveniente de contaminação, mas de um processo natural. "Por se tratar de um peixe predador, que está no topo da cadeia alimentar, o cação recebe o mercúrio acumulado por outras espécies marinhas".
Borohidreto de sódio
A retirada do mercúrio é feita com a aplicação de um agente redutor, o borohidreto de sódio, mais utilizado na preparação de celulose e em química fina. "Em contato com o músculo de cação triturado, o composto transforma o metal em um composto volátil, deslocando-o para o ambiente", explica o professor. "Depois da remoção é obtida uma massa que mantém todas as proteínas do cação e poderá ser testada na preparação de alimentos".
A pesquisa conseguiu uma remoção máxima de 91,3% de mercúrio. "A adição de borohidreto de sódio também não aumentou significativamente a presença de boro, outro elemento tóxico que poderia contaminar o produto obtido", ressalta Tenuta Filho. "Entretanto, é preciso fazer um monitoramento rigoroso dos efluentes de mercúrio líquidos e gasosos retirados do cação, para evitar que seu descarte provoque contaminação".
Danos ao sistema nervoso central
O professor aponta que a presença de mercúrio no organismo pode provocar danos ao sistema nervoso central, especialmente em recém-nascidos, crianças e jovens. "Quando uma gestante se alimenta com o peixe, o metal chega até o feto por meio da placenta", alerta.
Massa de peixe sem cheiro
A massa obtida após o tratamento tem cor mais clara do que o músculo de cação, e não possui o cheiro característico de peixe. "Isto permite o seu emprego em produtos que não sejam de origem marinha", explica o professor. "A massa pode ser transformada em um pó re-hidratável com utilização tecnológica, por exemplo, na preparação industrial de bolinhos e hambúrgueres feitos com outros tipos de pescados".
Hamburguer de peixe
Outra utilização prevista é a preparação de steaks por meio de termocoagulação. "Nesta técnica, o produto é aquecido a 90º por 20 minutos no processamento", conta o professor. "Em seguida, o produto é congelado e pode ser consumido após ser aquecido". O congelamento também permite a criação de texturas para a massa, úteis para a indústria.
Lisina
O produto obtido do cação pode servir para suplementar o nível de lisina, aminoácido importante no crescimento e na formação de tecidos no organismo, em preparações com proteína vegetal. "A lisina é encontrada em grandes quantidades nos peixes em geral", conta Tenuta Filho. "Embora haja alguma perda durante a remoção do mercúrio, que deve ser monitorada, a massa pode servir como aditivo em alguns tipo de proteína vegetal com baixos teores de lisina".
De acordo com o professor, serão necessárias novas pesquisas em escala piloto para comprovar a viabilidade da técnica de remoção na indústria. "Também é preciso verificar se o produto obtido em grande escala é inócuo para os seres humanos, ou seja, não possui efeitos nocivos", observa. "Também será preciso reduzir as perdas de lisina e desenvolver formas de descarte do mercúrio removido".
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