Músicas binaurais
As chamadas "batidas musicais binaurais", que viraram assunto do momento recentemente, podem de fato ter um efeito psicoativo no cérebro, embora as pesquisas sobre sua eficácia e segurança para a saúde sejam limitadas.
Uma batida binaural é um tom ilusório criado pelo cérebro quando ele recebe dois tons separadamente para cada ouvido, que diferem ligeiramente em frequência.
Monica Barratt e seus colegas da Universidade RMIT (Austrália) queriam entender como e por que as pessoas usam e gostam tanto desses tons.
Barratt usou dados da Pesquisa Global de Drogas 2021, que contou com respostas de mais de 30.000 pessoas em 22 países.
Os entrevistados afirmaram usar as batidas binaurais principalmente para relaxar ou adormecer (72%) e para mudar seu humor (35%), enquanto 12% relataram tentar obter um efeito semelhante ao das drogas psicodélicas.
"Assim como as substâncias ingeríveis, alguns usuários das batidas binaurais estavam em busca de 'um barato'. Mas isso está longe de ser seu único uso. Muitas pessoas as viram como uma fonte de ajuda, como terapia do sono ou alívio da dor," disse Barratt.
De meditação a "barato"
As faixas de áudio geralmente são nomeadas de acordo com o uso pretendido ou a audiência visada. Na seção binaural tem de tudo, desde atenção plena e meditação até faixas com nomes de drogas ingeríveis, como MDMA e cannabis.
A pesquisa revelou que os usuários desses ritmos musicais binaurais são mais propensos a serem mais jovens e relatarem o uso recente de drogas proibidas, em comparação com o restante da amostra. A maioria dos entrevistados buscou se conectar consigo mesmo ou com algo maior que eles mesmos, por meio da experiência.
O uso dos compassos binaurais para experimentar estados alterados de consciência foi relatado por apenas 5% da amostra total. Nos Estados Unidos, 16% dos entrevistados disseram que já experimentaram, enquanto no México e no Brasil, outros países onde o uso está acima da média, ficaram com 14% e 11,5%, respectivamente.
Definição geral de droga
Apesar da variedade de motivações para seu uso, Barratt afirma que o fenômeno das batidas binaurais desafia a definição geral de uma droga.
"Estamos começando a ver experiências digitais definidas como drogas, mas também podem ser vistas como práticas complementares ao uso de drogas. Talvez uma droga não precise ser uma substância que você consome, pode ter a ver com a forma como uma atividade afeta seu cérebro," disse ela.
Apesar de os ouvintes das músicas binaurais serem mais jovens, Barratt disse que essas músicas não são necessariamente uma porta de entrada para o uso de drogas ingeríveis.
"Na pesquisa, descobrimos que a maioria das pessoas que ouvem já estava usando substâncias ingeríveis," disse a pesquisadora. "Mas isso não descarta a necessidade de mais pesquisas, principalmente para documentar e negar possíveis danos."
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