Superbactérias em hospitais
O uso indiscriminado de medicamentos, sobretudo antibióticos, aumenta de forma considerável o risco de casos de superbactérias - microrganismos resistentes à maior parte dos tratamentos disponíveis.
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que 440 mil casos de tuberculose resistente são registrados no mundo todos os anos, além de cerca de 150 mil mortes decorrentes de infecções por superbactérias.
"Não há hospital livre disso. Lógico que um hospital de grande porte e de alta complexidade ou um hospital universitário com vários leitos de UTI [unidade de terapia intensiva] e que interna pacientes com cirurgias complicadas são o tipo de lugar que pode ter mais bactérias resistentes. Mas nenhum hospital ou casa de repouso com longa permanência está livre disso", observou o diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia, Marcos Antonio Cyrillo.
Problema cultural
Na tentativa de conter os casos de superbactérias no Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determinou que a venda de antibióticos só pode ser feita com a apresentação de duas vias da receita médica.
Vários críticos da medida afirmam que a automedicação - o principal alvo da ação da Anvisa - é um problema menor frente ao uso "oficial" dos antibióticos.
Para o infectologista, o uso indiscriminado de antibióticos configura, de certa forma, um problema cultural, já que o profissional de saúde se sente mais seguro ao receitar o medicamento.
"Ele acha que está fazendo um bem para o paciente, mas vários fatores precisam ser levados em conta na hora de fazer um programa de prevenção e também de orientação para o uso de antibiótico," reforçou.
Depois dos casos da superbactéria KPC (Klebsiella pneumoniae carbapenemase) registrados no país nos últimos anos, a Anvisa editou uma nota técnica que trata da identificação, prevenção e controle de infecções relacionadas a microrganismos multirresistentes.
Entre as obrigatoriedades nas unidades de saúde está a higienização das mãos por meio do uso de álcool em gel por profissionais de saúde e visitantes.
Reciclagem natural
Contudo, embora a OMS venha emitindo alertas contundentes sobre uma eventual "era pós-antibióticos", o problema está longe de ser simples.
Um dos problemas é inerente ao antibiótico, e não ao seu mau uso, seja por pacientes ou por médicos.
Quando um antibiótico é consumido, até 90 por cento dele passa através do corpo sem metabolização, e continua influenciando os microrganismos no meio ambiente.
Isso tem levantado uma preocupação cada vez mais com os chamados contaminantes emergentes, o que inclui os medicamentos que, passando direto pelo corpo humano, são "reciclados" pela natureza e voltam para o homem, sem receita, na água potável.
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