Anos vividos com incapacidade
O total de anos vividos com incapacidade (AVI) aumentou 42% no mundo, entre 1990 e 2013.
De acordo com pesquisadores do Global Burden of Disease, sob coordenação da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, o número de AVIs passou de 537,6 milhões, em 1990, para 764,8 milhões em 2013.
A pesquisa analisou 301 doenças agudas e crônicas no período, em 188 países. O estudo, publicado na revista The Lancet, é o primeiro a avaliar a extensão, o padrão e as tendências de perda de saúde não fatais em diversos países.
"O conceito de AVI é uma forma de medir e comparar, populacionalmente, quanto de incapacitação certa doença causa. Algumas vezes, a incapacidade é entendida apenas como invalidez, mas, na verdade, aproxima-se, principalmente, do conceito de sofrimento," disse o professor Itamar Santos, da Escola de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), que participou da pesquisa.
O conceito de AVI quantifica o impacto de problemas de saúde que impedem a mobilidade, audição ou visão, ou causam dor de alguma forma, mas não são fatais.
Segundo Santos, apesar de o aumento de AVI ser explicado pelo crescimento da expectativa de vida da população e do aumento de sobrevida após o diagnóstico de um considerável número de doenças, isso leva a uma importante reflexão de saúde pública.
"Por muito tempo, a medicina se ocupou, com méritos, em buscar formas de as pessoas viverem mais. Hoje, é importantíssimo perguntar como viver melhor. Outra evidência importante é que o número de pessoas que vivem com múltiplas doenças, pelos mesmos motivos, vem aumentando significativamente," explicou.
Razões da incapacitação
Santos disse que a lista de doenças que passaram a provocar incapacitação é, de certo modo, constante nos anos pesquisados. Ele destacou, entre as principais causas de sofrimento, as dores crônicas e sintomas de ansiedade e depressão.
Entre 1990 e 2013, o AVI devido ao diabetes subiu 201% e o causado pela osteoartrite, 124%. A asma aumentou 36% nos 23 anos em análise.
No caso do Brasil, a pesquisa mostrou que a anemia por deficiência de ferro não está mais entre as dez principais causas de AVI e que a asma aparece com mais destaque na lista, no sétimo lugar.
Entre as principais causas de AVI no Brasil estão dor lombar, transtorno depressivo, transtornos ansiosos, diabetes mellitus, perda auditiva relacionada à idade, transtornos musculoesqueléticos, asma, dor cervical, enxaqueca e doença pulmonar obstrutiva crônica.
Para Itamar Santos, a conclusão central do estudo é que é preciso ter "um olhar muito especial" para as causas do sofrimento, e não apenas as causas de morte.
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